NÓS TRÊS

Dia destes estava deitado, depois do almoço, quando o Augusto e a Valentina, meus netos, passaram correndo pela porta do quarto, convidei-os para que vissem comigo alguns vídeos no smartphone.

A princípio não gostaram muito da ideia, estavam mais interessado nos seus joguinhos no vídeo game. Como insisti eles aceitaram meu convite.

Escolhi um que eles gostassem , o que não foi fácil, pois o console de jogos é sempre mais atrativo e interessante.

Deitaram os dois ao meu lado e ficamos vendo vídeos engraçados. Distraídos, eles de olho no celular prestavam a atenção em cada detalhe. Eu? Bem, eu curtia aquele momento.

Eles, registravam em algum lugar de seus pequenos cérebros aquela tarde, quem sabe como uma faísca em suas memórias afetivas, que viesse à tona como uma boa lembrança num futuro distante, em alguma conversa com seus filhos ou netos, mas eu . . . ah, eu vivia aquela experiência maravilhosa no presente.

Que importava os vídeos, se o mais precioso eu já tinha, a proximidade e a presença dos dois, o abraço carinhoso e delicado em silenciosa comunhão. Do que mais eu precisaria se tudo que eu mais amava estava ao meu lado?

O futuro é um bicho perigoso de se entender, em dado momento parece-nos previsível, um segundo depois nos prega as suas peças que pouco compreendemos. Que podemos nos saber dos caminhos que a vida nos levará.

O que nos resta é guardar para sempre as emoções simples que o presente nos oferece, estas sim são de nossa propriedade e não as perderemos jamais.

As boas coisas da vida se posicionam sempre próximas a nós, tão próximos, com certeza, que muitas vezes nos passam despercebidas.

Antoine de Saint-Exupéry escreveu no seu badaladíssimo livro O Pequeno Príncipe que só se vê bem com o coração, pois o essencial é invisível aos olhos. Nunca alguém falou com tamanha propriedade.

Nós três concentrados no pequeno celular, era a vida que se manifestava como só ela. Nada mais importava. Na quietude daquela tarde revelava-se algo grandioso, algo maravilhoso, um presente de Deus.

Uma nesga de sol banhava-nos enquanto a brisa suave balançava brandamente a cortina da janela.

Perguntei aos dois se estavam bem. Eles responderam que sim.

Continuamos em silêncio. Eu, Augusto e Valentina.

Nós três.