O Congresso de Michel Temer
"Não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas é uma conquista do estado democrático de direito..." – disse o presidente Temer no seu pronunciamento depois do resultado da votação no Congresso.
Pare um pouco e pense. Foi uma piada? Devemos rir? Não costumo rir de piadas sem graça, ou, dependendo da pessoa e do tema, posso reagir com um riso debochado e sarcástico, acompanhado de palavrões, embora isso não seja do meu feitio.
Por que eles gostam tanto de dizer: “estado democrático de direito”, como se fosse uma palavra mágica? Tornou-se um refrão, tão banalizado e sem sentido que só os caras-de-pau não percebem isso. Ou pensam que o povo não sabe o que isso significa e acaba acreditando que estão falando a verdade. “Estado democrático de direito” é como se estivessem invocando o nome de Deus, portanto, sujeitos a uma blasfêmia se estiverem mentindo.
Assisti grande parte dos discursos, tanto dos defensores do governo como da oposição. Ficou bem claro quem tinha argumentos lógicos, coerentes, mais de acordo com os anseios do povo. No entanto, nunca vi tanta hipocrisia, tanta demagogia e desfaçatez; falta de honradez, de coragem, de... de vergonha na cara. “O pau que bate em Chico, bate em Francisco” não funcionou. Porque, para muitos, os corruptos eram só os que estavam do outro lado da cerca. E na justificativa do voto, meu Deus! Como tiveram coragem de falar o que falaram diante das câmaras para milhões de telespectadores? Tanto do lado do NÃO com do SIM, salvo poucas exceções, podíamos perceber as justificativas por interesses meramente partidários. Quem dizia “fora Temer”, chamando-o de corrupto, anunciava, aos gritos inflamados, Lula para 2018. Percebe-se que o crime é considerado apenas do ponto de vista político.
Grande circo montado, mas os palhaços não ocupam o picadeiro nem fazem rir. Os palhaços ocupam as arquibancadas e assistem, estupefatos, impotentes, o drama obsceno representado pelos “donos” da casa. O crime postergado, acariciado, minimizado, deixado para ser analisado depois que o bandido roubar mais, assaltar com mais requinte, com cuidado para não deixar pistas e cobrir as que já existem. Foi isso o que propôs grande parte dos parlamentares.
Mas nós vamos sobreviver, não vamos? Claro que vamos! Nem que tirem a última tira do couro do nosso lombo.