Solidão de Poeta

Em meus poucos anos de escritor e poeta, por volta de uns sete anos, eu percebi o quão magnífico é a arte de transformar alguém em arte. Eternizar alguém em palavras é tão bonito quanto eternizar alguém em um quadro. É uma arte de você tornar concreto o seu sentimento e a sua visão por uma pessoa em particular e daí eternizá-la em palavras. Talvez um dia estas palavras sumam da internet, dos livros, jornais, mas enquanto elas estiverem ali, elas serão eternas.

Transformar alguém em poesia ou prosa é uma capacidade de poucas pessoas, você conseguir transmitir a beleza, o sentimento, o gesto, pôr tudo em palavras, métricas, parágrafos e até músicas, músicas lindas que tocam corações. Esta é uma das artes mais bonitas, a arte de eternizar uma pessoa, uma pessoa amada, alguém marcante em nossas vidas. Mas correndo por todos estes percursos de explicar como é lindo fazê-lo, também há uma tristeza oculta, não é uma daquelas tristezas que incomodam e causam coceiras na alma, é uma tristeza de picos, algo que você só percebe que está lá em algum momento e este foi o momento que percebi. Eu que escrevo tanto sobre alguém, que eternizo alguém que amo de diversas formas não consigo me eternizar. Consigo falar sobre meus sentimentos, sobre meus sonhos mas nunca sobre quem sou e o que sou e esta é a Solidão de Poeta, uma solidão de não conseguir se eternizar de forma alguma não só na própria escrita como também não se encontrar em qualquer outra. É uma solidão de não conseguir se encaixar em seu próprio mundo. Um dia, talvez, eu seja conhecido como autor, tenha meu nome espalhado por aí em capas de livros, sites, páginas de Facebook que atrelam a mim frases que sequer são minhas como acontece com minha colega Clarice Lispector, talvez eu consiga minha própria sessão em livros de literatura do século 21, um espaço em salas de aula, minha página no Wikipédia e mesmo assim eu jamais terei sido eternizado por mim mesmo em alguma poesia minha ou talvez jamais seja eternizado por alguém. Assim, com tantos talvez, posso dizer que talvez eu seja sim a prosa e a poesia de alguém, quem sabe uma canção, mas neste exato momento eu me questiono, qual deve ser a sensação de estar se transformando em palavras por alguém que te vê de coração pulsante.

Tornar alguém poesia não é igual receita de bolo, não é simples ou algo que se possa ler e aprender de um minuto para o outro, envolve um sentimento muito mais profundo e mais intenso, envolve você ver na pessoa aquilo que outros não conseguem ver e daí pouco a pouco as palavras começam, sozinhas, a vir como um quebra cabeça, se montando sozinhas e formando os textos mais diversos e bonitos que alguém pode ler. Eu costumo pensar que, não existe uma poesia mais bonita do que outra quando ela fala sobre alguém, elas são perfeitas, apenas pelo fato de que você consegue ver uma imagem construída de uma pessoa dentro de cada palavra. Momentos, sentimentos também podem ser construídos desta forma, mas o ponto que eu chego aqui é que eu consigo ver aquilo escrito e ser quem escreve mas que em algum momento do meu dia-a-dia eu cheguei à conclusão de que, às vezes, me faz falta ser a poesia ou a prosa de alguém.

Lian Abbagliato
Enviado por Lian Abbagliato em 03/08/2017
Código do texto: T6072984
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