Uma terra chamada "Crack".

São Paulo , uma das cidades mais importantes do mundo, sem exagero, luta há vinte anos contra a "Cracolândia". Até o nome é feio ! A terra dos perdidos, pobres almas que se arrastam doentes pelas ruas, dependentes químicos à mercê da ambição de traficantes, sob os olhares impotentes da população, e a incompetência das autoridades.

Em vinte anos só cresceu, hoje se espalha por vinte e três pontos distintos , como "estranhas franquias" do tráfico. Um lugar de zumbis maltrapilhos de olhares perdidos e bocas rachadas, ávidos por mais uma pedra, a última quem sabe ?! Moças que já foram estudantes, hoje se vendem pelo vício, seus corpos há muito não lhes pertence, rapazes que roubam qualquer coisa, sem se importar com a dignidade, perdidos de seus familiares, que muitas vezes já perderam as esperanças após inúmeras internações.

O retrato do fracasso e do descaso, as várias prefeituras que tivemos se preocuparam mais em prestar esclarecimentos à opinião pública do que em salvar vidas. As ONGS lutam como podem, algumas são sérias , movidas por boas intenções ou iniciativas religiosas, mas tropeçam nas leis e na falta de continuidade, é como se tirassem água do Titanic com uma caneca, talvez até furada, pouco conquistam a liberdade.

Falei em liberdade , de propósito , pois salvar-se de uma dependência significa liberdade, vida, sequência, recomeço...dignidade. Poder olhar-se de novo com respeito, poder se sentir parte da cidade novamente, parte da família.

Para os traficantes, penas pesadas, sem tréguas, eles são assassinos, matam esperanças, destroem núcleos, laços, sonhos...enquanto enriquecem.

Sou grato à Deus porque meus três filhos nunca se envolveram com drogas, e sei que a base familiar ajuda muito na formação, não se pode falhar nesses aspecto.

Um viciado é um doente, precisa de carinho , amor e o respeito da misericórdia, não é dono das suas vontades, então que não me venham com "essa "- "Ninguém pode ser internado contra a sua vontade !" Eles não tem discernimentos, eles não conseguem decidir por si, será que não entendem ?

Já visitei hospitais psiquiátricos várias vezes, e alas de criaturas em recuperação, jovens em sua maioria, atordoados pelos remédios pesados, amparados enquanto passeiam se arrastando nos chinelos ,pelo jardim. Lugares onde o tempo não existe, que dirá a vida ? Mesmo assim estão em lenta e talvez frágil recuperação, mas sempre é uma esperança, mesmo que tênue...Nas ruas , nenhuma chance !

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 01/08/2017
Reeditado em 05/08/2017
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