PELA ARITMÉTICA DO ESTELIONATO EMOCIONAL

Opinião

Sigo ARREDONDANDO!

Há questão de poucos dias, quem passar por uma das redes hegemônicas de supermercados da cidade, uma que, aliás, hoje dizem ser gerida por maioria do capital estrangeiro, vai se surpreender com um exemplo muito bonito, o da CARIDADE COMUNITÁRIA, um gentil convite solidário àquele olhar ao próximo que tanto nos falta nos nossos dias.

O tema é muito bonito.

Assim, à mínima “comprinha” efetuada nas lojas da nobre rede, posto que hoje a maioria JÁ DISSE ADEUS ÀS COMPRONAS DE OUTRORA, o consumidor, então, será gentilmente convidado a arredondar o seu gasto em centavos em prol duma entidade carente, com endereço eletrônico, site para confirmação da doação e tudo que o valha. Bacana.

Assim que a sua compra fecha no caixa lhe surge a pergunta:

“ a senhora gostaria de arredondar sua compra para ajudar...”

A idéia é super boa, quem diria que não?

Afinal, quem seria a insensível criatura egoísta e egocêntrica a se recusar a arredondar centavos da sua compra ao sofrimento do povo brasileiro e /ou do mundo, não é mesmo?

Então, sistematicamente, eu e a cidade inteira passamos a arredondar a caridade na aritmética, aquela matéria do conhecimento que o Brasil pontua como um dos piores do mundo. Estatística recente.Mas o resto do mundo sabe fazer contas com centavos, é o que parece.

Assim, se você for uma, duas ,três, dez, cem vezes ao supermercado para a sua comprinha de emergência ou para a doutra família, será imediatamente arredondado na caridade.

Ok, não discuto o mérito, mas discuto a forma.

O curioso: dia desses, a conta da minha compra era de alguns reais e trinta centavos...de pães que não eram meus.

Topei arredondar, achei que a dona dos pães também toparia, é uma pessoa de bom coração, e sempre topo o tudo de bom, só que topei um arredondamento que pensei ser de 0,20 centavos(diante dos tantos que fiz nas últimas semanas), para compor o total para meio real, de 0,30 para 0,50 centavos).

Mas arredondaram para 0,70. Coisa boa! Nem banco arredonda tanto e tão rapidamente, presumo que não.

Um negócio de Brasil!

Parece pouco...mas percebem? Quanto custa uma sacolinha biodegradável?- 0,18 centavos.

E quanto custa levar um óleo composto caríssimo anunciado como um saudável azeite de oliva extra- virgem?

Essa coisa de oxidar as artérias e o bolso do consumidor não é nada caridoso, é a forma que aqui discuto.

O que o Procon acharia dessa caridade? Com certeza diria que o consumidor decide porque foi avisado...e está tudo certo.

Fica a reflexão para aquele que gosta da matemática DA VIDA, dessa vida que sorrateiramente nos é subtraída em tudo, centavo a centavozinho, por todos os cantos, sem multiplicação de nada, só com divisão pelo mesmo nada, aliás, essa última, operação matemática que não existe...mas que nós a inventamos e a reinventamos a cada dia, como ninguém!

Concluo minha reflexão com o pensamento de que Deus e Caridade não requerem intermediários, e como já foi escrito lá atrás:

"que o que uma das nossas mãos oferece...a outra não veja".