Saudosista em versos
Eu escrevia cartas, desenhava no papel, eu sentia a timidez, sentia medo, me sentia feio, e às vezes me sentia bem, porém, poucas vezes fiquei assim, sem sentir nada. De nada em nada, a gente se enche de tudo que não é de verdade.
É a foto na tela, é o texto na ponta dos dedos, meus papeis se acabando, se não há rabisco, não há minha impressão daquilo que sinto no tremor das mãos, na intensidade dos meus punhos ao desenhar o sentimento da alma.
Vejo as fotos passando a cada instante em frente aos meus olhos e me lembro do quanto esperava pela revelação do filme. O tempo até que fazia sentido naquele ‘tempo’. Tudo agora é instantâneo! Amor, a raiva, a ideia e o afeto. Ah! E o feto? Já sorri no ultrassom.
A alma é velha, o corpo nem tanto, mas quem manda é ela. Só queria um pedaço de noite do tempo em que não vivi, das cartolas, gravatas e galanteios. Palavras difíceis que apenas o dicionário resolveria o problema da escrita, sem a agilidade do corretor.
Gostaria do ruído da vitrola com o trompete zunindo no cristal da taça de vinho, da poltrona desajeitada e dos livros nas estantes. Papeis jogados, rabiscos guardados e o tlec-tlec da máquina de escrever rompendo a madrugada.
O tempo é outro, eu sou outro neste tempo. A alma é a mesma e a poesia é eterna.