MEU PÉ DE JENIPAPO
O P É D E J E N I P A P O
Lembro-me como se fosse hoje...
Sua mão pesada, dando-me uma sonora palmada,
Que doeu mais por dentro que por fora.
Ele era o meu herói, o meu ídolo...
Olhava para ele com profunda admiração
E via nele o homem que poucos podiam ser.
Não me recordo o porquê do castigo,
Só sei que o decepcionara,
Que perdera a sua confiança.
Senti meu mundo de criança de pouco mais de cinco anos cair.
Corri para os fundos do quintal,
As lágrimas correndo pelo rosto,
Num choro dorido e silencioso
E me refugiei no mais alto galho de meu pé de jenipapo.
Abraçado ao tronco, as lágrimas escorrendo pela árvore,
Meu coraçãozinho de criança batia acelerado,
Sentindo-me abandonado por quem eu tanto amava,
Certo de que o perdera para sempre.
Foi então que ouvi sua voz:
-Filho... me desculpa... desce...vem com o pai.
Meu coração se agitou. E meu céu tornou a se abrir.
Lá do alto, olhei para baixo,
E vi nele o homem que um dia eu queria ser.
Desci rapidamente, e antes de chegar ao chão,
Já senti seus braços fortes me segurando,
E naquele abraço, a certeza de que nunca mais o decepcionaria.