O SOL
O SOL
Eu tinha, então, 15 anos e me afastara do Seminário para tratamento de saúde. O avião deixara a mim e minha família, no aeroporto, às 20,00 horas. De taxi, chegamos ao apartamento que fora determinado para o meu pai, por volta das 21,00 horas. Os móveis estavam todos desmontados e naquela noite dormi num colchonete, sob a janela da sala, ainda sem cortinas. Foi um sono profundo e ininterrupto como só os jovens conseguem ter. Acordei, de repente, com uma luz muito brilhante entrando pelos vidros da janela e assim me dei conta que começava a amanhecer. Curioso a respeito de como seria, Brasília, ao alvorecer, fui me levantando, lentamente, até ficar de joelhos e deparei com o maior espetáculo que já vira em toda a minha vida: O nascer do sol no planalto central. Não era o sol que eu me acostumara a ver no Rio de Janeiro. Era um imenso disco de fogo que se levantava do chão, bem próximo ao prédio onde estava. Todo o céu ficou emoldurado por seus raios brilhantes, dourando o mundo e criando uma tela que mortal algum seria capaz de reproduzir. Uma alegria imensa, diante de tanta beleza, invadiu minha alma, deixando-me em estado de êxtase, querendo ser parte daquela pintura. E exclamei extasiado: Como é linda a natureza; não quero mais voltar para o seminário. Quantas outras vezes acordei cedo para ver aquele milagre acontecer. Já adulto, longe de Brasília, recebi um telefonema de minha mãe no qual dizia que, indo de Brasília para Anápolis, para visitar seu neto, que era padre naquela cidade, estando de carro ao lado de meu pai, se deparara com o nascer do sol, na estrada, e seu primeiro pensamento foi: Ah, se o Pedro estivesse aqui... O sol de Brasília me impediu de voltar ao Seminário e, quem sabe, ser padre. Longe da Capital, longe de seu sol radiante, segui a minha vida, sem jamais deslumbrar beleza igual. O mundo dá muitas voltas e quase sempre nos traz ao lugar de origem. Assim, muitos anos depois, meio que afastado de Deus, fui convidado para um Encontro de Aprofundamento Cristão, que não posso dizer o nome, pois lá tudo deve ser surpreendente. Relutante, fui. Vi ali homens de coração de pedra se desmanchar em lágrimas; pessoas que nunca tiveram afinidades com Deus, terem seu primeiro encontro com Cristo e mudarem completamente suas vidas; racionalistas convictos se renderem diante da fé. Um verdadeiro tufão espiritual acontecera à minha volta, mas eu me quedara frio e inerte. Não conseguia ver o que eles viam; não conseguia sentir o que eles sentiam. Estava mergulhado em profunda tristeza e decepção. Foi então que apareceu o Sol. Não apenas o sol de Brasília. Era um Sol muito maior, mais brilhante, que não só me tocou, mas me invadiu, me modificou, devolvendo-me a candura daquele jovem de 15 anos, diante da janela de um apartamento em Brasília. Como apareceu este Sol, que fiz para merecê-Lo, quando já perdera a esperança? Não sei! Eu estava apenas ali, disponível, aguardando pelas demoras de Deus. Fiquei extasiado, outra vez, inebriado com aquele sentimento novo, vendo na janela de minha vida o Sol Divino se fazer presente e dizer a mim, mísero mortal,” que por mim era capaz de permutar mundos.” Aquele sol de Brasília foi o prenúncio do verdadeiro Sol, Deus, que finalmente conheci. Hoje, quando admiro o astro rei, lembro-me do Sol Divino que aguarda, pacientemente, uma vida se for preciso, para se revelar aos homens e mulheres de boa Vontade.