Como é Bom Servir

Foi num mês de julho. Numa madrugada fria, com uma lua maravilhosa, eu parti às 2 horas de Ribeirão Preto com uma composição de 50 vagões de carga, com destino a Santos. Estávamos com duas locomotivas. Ao adentrarmos uma estação no trecho, estação de cruzamentos e, portanto, de poucos recursos, o chefe da estação me deu um sinal vermelho. Quando ele se aproximou de mim ele disse:

“Tenho na estação uma senhora que está em estado bem adiantado de parto”.

E me pediu para levá-la até a primeira cidade que dispunha de um hospital, e que ficava há 25 km dali. Depois de aceitar seu pedido, acomodamos a mulher na cabine da locomotiva diesel, que era muito confortável. Como a locomotiva ficava na mesma altura da plataforma, a mulher não teve dificuldades para subir. Pusemos a mulher no banco do meu ajudante. Antes de partirmos, notei que a mulher estava com muito frio. Tirei minha jaqueta que era de couro, forrada com flanela, e a coloquei nos ombros daquela futura mãe. Aproveitei para lhe dizer, ao pé do ouvido;

“Faça força para que nós cheguemos ao local de recursos para a senhora, em tempo. Pois já fiz muitas coisas, porém nunca fui parteiro”.

Ao chegarmos ao local determinado uma ambulância estava à espera daquela senhora. Ao tirar meu agasalho, pois já estava sendo coberta com dois cobertores, ela agarrou minha mão e me disse, com lágrimas nos olhos:

“Senhor maquinista, o senhor foi a resposta às minhas preces a Deus”. Eu então lhe disse:

“Sou um humilde maquinista que sempre procura fazer o bem. Desejo-lhe que tenha seu filho em paz, e sejam muito felizes”.

Passados alguns dias, encontrei o chefe da referida estação onde encontrei a mulher em estado de parto, e ele me disse:

“Sei do risco que o senhor correu ao transportar a mulher na locomotiva, uma vez que é proibida a permanência de pessoas estranhas nas locomotivas. Naquela noite 4 maquinistas já haviam recusado essa empreitada. Aquela senhora chama-se Elvira, tem 33 anos e seu marido é o Antônio. Correu tudo bem no parto. Eles trabalham aqui nas imediações num sítio onde planta-se amendoim. Ela pediu para dizer ao senhor que ela não tinha condições de agradecer ao senhor, mas pediu a Deus que o fizesse”.

Laércio
Enviado por Laércio em 31/07/2017
Código do texto: T6070151
Classificação de conteúdo: seguro