Chuva e Solidão

Chove. Aqui no meu quarto, sozinha, penso: “o que foi feito de minha vida?”

Isso levará a alguma conclusão? A alguma solução? Na certa que não. Ou sim?

Então, ponho-me a ouvir a constância dos pingos da chuva caindo sobre o aparelho de ar condicionado. Não há coaxar de sapos, não há grilos, nem cachorros eu ouço. Mugido de vacas, relincho de cavalos, cacarejo de aves? Aquelas pererecas? Longe o tempo! Risos de crianças, pipocas saltitantes dentro da panela e cheirinho de café coado na hora...

Isso me transporta a um pretérito mais que perfeito, que já se completou antes de outro também passado. (não é assim que se estuda em Gramática?) Terei sonhado tais situações? Certamente que não. Eu as vivi intensamente numa fase que acreditava iriam avançar no presente e invadir o futuro. Bons tempos aqueles...

Paro e fico atenta. Incrível como a chuva sendo molhada pode gerar um som surdo como de algo seco caindo. Curto-a. Ela faz parte da minha solidão. Entendo que chuva e solidão sejam irmãs. Ambas são constantes em minha vida, são familiares, são fiéis: não me abandonam.

Sinto arrepios quando fico assim, reflexiva; alinhavo os pensamentos e vêm-me, então, à mente entre outros assuntos, pessoas que levam uma vida difícil por causa de seus relacionamentos. Como pode haver interação onde seres de uma família trocam apenas palavras necessárias? Como se pode viver sob o mesmo teto sem um toque de mãos, um olhar, um carinho? Cadê o sorriso? O que impede determinadas pessoas de “discutirem a tão desgastada relação”, de tomarem uma decisão? Seria o falso moralismo, a máscara que não quer cair? Ou o comodismo? Difícil acreditar, mas isso acontece, sim.

E se fizermos uma pesquisa, ou já se fez “n” pesquisas sobre relacionamentos familiares para saber a quantas anda o diálogo, o carinho, o amor na vida das pessoas? Mais da metade já disse e outras tantas dirão que não são felizes. Então porque insistem em levar a vida dessa maneira? Seria difícil deixar tudo e começar uma vida nova?

Sonhos não realizados, noites de vigília, solidão constante, crises existenciais, nostalgia, saudade. Saudade de quê? De algo que se pensou ter e que foi apenas ilusão?

Passeios, cursos, viagens, tudo para preencher o tempo, esse mesmo que escapa como água entre os dedos, que não se pode segurar, reter; assim transcorre o tempo, cúmplice da solidão e da saudade.

Até quando?

Cida Micossi
Enviado por Cida Micossi em 31/07/2017
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