Texto escrito em mais de um momento... e na noite em que recebi “a notícia! ”
Bisabel. 2016. Outubro. Bsb.
Bisabel. 2016. Outubro. Bsb.
Eu estou em Brasília. Amo esta terra e todo mundo sabe disto. Não que se interessem, pelo fato. Só quem me quer bem, sim. E quem busca minhas causas e me desvenda um pouco mais, pois isto é o que a gente faz quando ama. Também faço em relação aos outros. Certos outros.
Fui na casa da Suzana e do Clovis. Deborah estava lá, gente da minha maior paixão.
E ouvi as cigarras.
De novo. As famosas cigarras de Brasília.
Levei um susto ali, naquela sala linda. Emocionei-me. Cigarras que cantam me emocionam, sempre.
As de Brasília, são incríveis. Eu as ouvi por vinte anos, em suas temporadas, nas frondosas árvores de todos, literalmente, todos os apartamentos em que morei nesta terra amada. Parecia que seu som entrava pelas minhas janelas. E pelo coração.
Disseram-me que não haviam cantado até aquela tarde, pois as chuvas chegaram antes delas. Não sei se era isto.
Foi por pouco tempo, mas cantaram muito. Abri a janela da sala linda para escutá-las. Quem sabe fosse para mim?
Fiquei com o som das minhas cigarras na memória auditiva. Isto aconteceu.
****************************************************
Brasília, ainda.
Ha uma certa magia no ar. São as cigarras e mais outras coisas, em minha cabeça,
Um destes dias amigo muito querido postou uma trova linda. Desejei colocar aqui integralmente, mas os DA não permitem a cópia.
Sei lá porque, sem razão aparente, muito me tocou. É muito linda e doce. Falava de uma menininha que abanava para ele com sua mãozinha.
Senti vontade de voltar muitas vezes, onde está publicada e reler, também sem razão aparente, que não outra de apreciar os versos do meu amigo.
E lá estava sempre a Menininha do Mingau, doce mingau, me chamando.
E, no entanto, em meu cérebro, era uma criança, não uma menininha, eu não sabia se era menininha ou menininho que abanava para ele, como dizia o seu verso. Atribui isto ao fato de eu ter só filhos homens e com este gênero me familiarizar mais...eu não sabia...
****************************************************
Aeroporto Bsb. Esperando embraque.
Chegou a hora a volta. É o instante de voltar para casa. Saudade antecipada. Da Terra Brasilis, da gente daqui, do seu significado, das cigarras, da natureza e de quem amo.
O Piazinho loiro, do liso cabelo cor dos fios da espiga do milho verde, olho azul, me encarando na fila. Não tirava seu olho de mim. Ninguém mais... Fui eu somente e por longo tempo, o seu interesse...Só eu... fila cheia, muitas pessoas, seus pais, abismados. Eu, engalanada.
E lá se foi ele, no carrinho macio, inteiramente virado para me olhar. Olhos azuis.
Sua ausência me deixou meio sem estofo. Engraçado. Como se o conhecesse...
Estou em Curitiba, sentada no sofá da minha sala.
Não há ninguém aqui. São Chiquinho me olha (hoje é dia dele… (), bem ao meu lado, refletido lá no espelho.
Notebook nas pernas, olhar perdido dentro de mim, analiso os meus dias recentes. As vivências de Brasília. A saudade que tive lá, desta vez daqui e de quem amo. A viagem. A chegada. O frio. Muitas coisas.
Os pensamentos vão se sucedendo, inúmeros. Mas algo predomina. E eu explico.
Sempre fui ligada às crianças. Às vezes, apenas por observá-las brincar ou acompanhar suas maneiras de ser e seus comportamentos, eu me emociono. Acontece isto quando encontro com Alice, minha pequenina vizinha de porta. O modo como ela própria me analisa, na segurança do colo da sua mãe, enquanto nos ouve conversar, é lindo!
Volta à minha memória neste instante o pequenino poema do meu amigo sobre a menininha lhe dando tchau e sobre o seu desejo, em retribuição, de que sempre fosse doce o seu mingau. Claro que em sentido figurado, se referia aos votos de uma boa e feliz vida...E também o tanto que me enterneceram aqueles pequenos versos, ainda que esteja acostumada à sua produção literária tão perfeita.
E me vem, também, à cabeça, estas crianças que estiveram próximas estes dias, coisa que não acontece habitualmente. Convivo só com adultos, raramente me defronto com crianças, esporadicamente Alice...
O menininho do aeroporto, o gurizinho filho de amiga da Lua, que se assombrou com a minha brincadeira de imitar o som de um porquinho, arrebitando meu nariz...o seu ar circunspecto, me olhando e olhando, alternando seriedade, risada e avaliação.
Seria alguma premunição?
Deus, de novo, estaria me enviando uma das suas “telepáticas” mensagens em subterfugio que ELE sempre usa para me avisar de alguma coisa?
A lágrima rola, se espatifa em minha mão. Contenho a emoção e me pergunto: Porque chora você, mulher, porque?
E na sala vazia algum sino ressoa no barulho do silêncio que a distância da noite escura trás de fora para dentro.
É, inequivocamente, um som de amor.
Este meu Amor, onde todos os meus amores tão diversificados e paradoxalmente únicos e isolados se misturam de tal modo que não consigo nunca identificar se algum deles é fora de propósito. Amor pode ser isto?
O som do sino ficou mais próximo. Muito próximo.
Inesperadamente silencia. Tudo se aquietou agora.
Inexplicavelmente eu sinto as batidas do meu coração.
E percebo. Era sim, uma mensagem...
Os menininhos, a menininha do mingau doce...eles me avisavam. Eu não tinha entendido...
****************************************************
Esta mulher precisa escrever outro livro sobre nuvens. Uma nova criança chega em sua vida.
Esta mulher sou eu, agora com mais um rótulo: bisabel.
É. bisabel, sim!