Órbita

Tudo passa rápido. Tudo se desfaz. O ônibus avança depressa em busca do destino. Corremos para o futuro. Mas para onde estamos indo? Para o teatro, cinema, trabalho, compras? A rapidez consome o tédio. A calma ganha um certo sentido que a própria correria perde em exatidão. Tudo rápido demais. Sutil demais.

Dezembro está de volta cada vez mais veloz.

O desejo de voar nunca passou e virou sonho predileto. À vontade de ganhar prêmio consome a ausência de elogios durante uma vida inteira. Prontamente há pouca coisa, tudo corre e tudo é ao mesmo tempo demorado. Formam-se filas estáticas de pessoas que correram muito. A rigidez do fundador da cidade no movimento geral aquiesce um rápido olhar no passado de bronze. Perde a graça austera que nunca teve no rústico monumento calado. Destaca o signo da significação e logo vem o canto da tarde.

O que há é vontade de correr mundo. Partir, decolar, navegar, dobrar o Cabo da Boa esperança, dominar mares, subir céus, penetrar na zona ignorada. Convencer e garantir que a banda desconhecida compensará o esforço num empenho imaginário de progresso. Não há mais lugar para rostos imóveis nem pedestais da lembrança inerte.

E quanto à felicidade? A emoção e a expectativa do torcedor? Tudo na velocidade imprimida pelo trajeto ideal. O passe circunstancial, nítido, de intencionalidade pura, a velocidade desfeita na absoluta ternura da rede. A rede e a rapidez implacável da desconfiança pelo suor do cansaço. Noites de isolamento. (A transpiração tornou-se mais útil do que a inspiração). O mar é que imenso. Navegável.

O poder da correria avança sem perdão sobre o frágil instante do jardim animado. Todavia há certa hora que tudo declina. O carro fixado no estacionamento, a lua e a blandícia do sereno. Num lugar ermo o canto silencia. A mágica do efêmero procura sinceridade no vento. Somente a simples sinceridade. Feito o cálice das horas ternas, sem complexo de mundo. O vento cessa. A rotação termina. A chave espalmada na mão abre a porta pacífica da memória. Entram os irmãos. Todos desejando o dom de ouro dos sonhos. A simples porção central. O bem estar da paz e do horizonte.