SOU CASADO COM A MORTE
JACQUES CALABIA L AGUIR (JCLAGUIR)
Hoje ela veio entrar na minha casa.
Chegou de repente e ficou calada.
Tinha sobre o vestido um manto negro.
Ele até brilhava a luz da lua.
Mas qual foi a hora ela veio?
Já havia passado a meia noite.
Ela contemplava-me agora parada.
Observava o que eu estava escrevendo.
Senti em todo o meu corpo um arrepio.
Era sempre assim mesmo quando não havia frio.
De repente, ela cortou o silêncio.
_ Gosto quando você escreve a meu respeito.
_ É por isso que venho sempre amá-lo.
_ Você é o único mortal que fala quem sou de fato.
Dito isso "Mora Tis Mortis" me beijou e seu lábio era gelado.
Senti o intenso gelo dos lábios dela.
Como a morte é mesmo sedutora!
Muitos o tempo todo tem medo ao vê-la.
Ali a minha frente estava uma mulher.
Ela assentou-se no meu colo.
Para quem não sabe sou o marido da morte.
Cada vez que a vejo está mais linda.
Na nossa noite de núpcias tocou marcha fúnebre.
E fiz amor com ela pela madrugada afora.
O mundo parava quando ela me amava.
A morte sorriu depois de consumar seu ato.
Ela mexia com todos os meus sentidos.
Com a presença dela dobrava o silêncio.
Ninguém morria quando a morte deitava comigo.
Sei que muita gente por ela agonizava.
Muitos a descrevem usando uma foice.
Mas sempre vejo em suas mãos um rosa roxa.
Contemplo o corpo e o rosto de "Mora Tis Mortis".
Não se parece em nada com que vejo nos filmes.
O que seria feio nela?
Não há o que falar.
A morte acordou do seu sono letárgico.
Beijo-me rápido e foi dizendo:
_ Está na hora do meu trabalho...
"Mora Tis Mortis" vestiu sua roupa.
Com as mãos fez um movimento com a rosa.
Vi entre a neblina pessoas morrendo.
A morte imediatamente saiu do meu quarto.
Fui logo tomar um quente banho.
Liguei a televisão e assisti um repórter se infartando.
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BELO HORIZONTE, 27 DE JULHO DE 2017. MINAS GERAIS.
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