O SUPLENTE
Zé Prefeito descansou os dois pés na mesa executiva, sorrindo. Afinal, achara o caminho. Alcançou o telefone e discou. Do outro lado atendeu o vereador Zé Dotô.
__ Cê vai renunciar, preciso fazer umas mudanças. Liga pro suplente, Zé Bolacha e vende a vaga por 100 mil. Me dá 50 e vou te dar uma Secretaria ou Regional, mando o Zé Coroné pro lugar do Zé Bolacha e o Zé Marrado pro lugar do Zé Coroné. Entendeu? Liga agora. Nem precisa dizer que não sei de nada, né?
__ Alô, Zé Bolacha, sou eu, eu mesmo, tudo bem? Vai ficar melhor ainda pra você agora... vou renunciar, isso, cê assume, vai ser hoje mesmo, isso, mas aqui, presta atenção, né de graça não... quero 150 mil, se vira, antes da reunião tem que me passar a grana, ok, tá legal, fechado.
__ Alo, Zé Coroné, sou eu, é, eu mesmo, o Zé Bolacha, tá tudo bem? Melhor pra nós dois agora, é, Zé Dotô vai renunciar, isso, hoje mesmo, mas aqui, presta atenção, né de graça não... quer 200 mil antes da reunião em dinheiro, eu não tenho, mais se você bancar, eu pago com metade do meu salário, cê sabe,, eu assumo a vaga, aí cê vai ser meu suplente e daqui a um ano eu renuncio e você assume... fica bom pra todo mundo. O quê, fechado? Mesmo? Vou ligar pro Zé Dotô. A gente se encontra antes da reunião. Heim? Cumé? Seu afilhado? Deixa comigo.Tá dentro.
E assim se fez. O plano do Zé Prefeito funcionando perfeitamente. Todo mundo feliz, ah, menos o Zé Coroné. Afinal, o agora vereador Zé Bolacha não cumprira o acordo e já se passaram três meses. Naquela madrugada bateram forte na porta da casa do vereador Zé Bolacha. E para o povo não tem hora. Zé Bolacha abriu a porta e o sorriso para o povo, mas deu de cara com dois trinta-e-oito conversando grosso e deseducadamente.
__ O Zé Coroné mandou buscá o dinheiro com juros ou a sua vida.Que vai ser?
Duas horas da manhã...Zé Bolacha não tinha alternativa. Convenceu o capanga do Zé Coroné a deixar que ele desse um telefonema. Quem tem grana debaixo do colchão pra qualquer emergência e valor naquela hora? Ora o Zé da Grana, o agiota.
__ Alô, Zé da Grana? Sou eu, eu mesmo, Zé Bolacha... preciso de um favorzinho ( explicou). Tá certo, topo, manda ela lá no gabinete, beleza, concordo, tô indo aí...
Bom, eis mais um fato do nosso folclore político. Zé Bolacha e Zé Coroné se acertaram. Nunca mais houve atraso, claro, mas o Zé da Grana não recebeu até hoje... verdade, tá com uma Nota Promissória assinada pelo Zé Bolacha pendurada na parede da privada do seu buteco pra todo mundo ver.
Enquanto isso, o Zé Povinho...