Viajem ao interior

Após dias de confusão, e indecisão profunda que me atormenta, uma dor mediastinal localizada levemente à esquerda, causada por consequências de sentimentos mal resolvidos, na busca incessante de um bem estar interior, busco refúgio em minhas raízes.

Não querendo correr o risco de viajar cerca de 300 km solitário ao volante, vou até a estação rodoviária e entro em um transporte coletivo. Era dia de São João e considerável multidão demostra o mesmo desejo de rever familiares e degustar o sabor do milho no interior. E, de repente, parece ser aquela a única via viajem, pois o ônibus estava tão lotado que realmente não tinha como me sentir só.

Com todo aquele calor humano, considerando que o ônibus possuía quarenta poltrona e, ao sair da cidade, já tinha quase cem viajantes, metade em pé, alguns sentado no colo, era fácil de se ouvir brigas e xingamentos - que a mãe do motorista não ouça o desabafo de alguns passageiros. Paro de ler um livro, começo a observar ao meu redor.

Vejo uma genitora com sua filha de colo tentando se equilibrar em bipedestação entre os acentos, todos ocupados. Esperei um pouco a reação de algumas pessoas próximas aquela mãe, ter a gentileza de pensar no risco de vida em que corria aquele bebê. Após poucos minutos levanto o braço lá de trás, a mãe olha e entende a minha mímica, ao oferecer o meu acento, a face raivosa muda, sua expressão agora é com um leve sorriso de satisfação. Ela se dirige com dificuldade entre as pessoas e, indo ao seu seu encontro, seguro o seu bebê, para que ela sente, sem maiores dificuldades. Percebo que duas meninas a seguiram, logo entendi que eram mais duas filhas.

Já levava quase uma hora em pé e, finalmente, chega o destino de uma senhora que estava ao meu lado. Após a saída desta, sento, retiro corrimão que divide as duas poltronas e ofereço o meio para uma das meninas sentar. O aperto começou a nos incomodar um pouco, no entanto, tenho a ideia de oferece minha perna direita junto com a perna esquerda da mãe dela, o que gerou um colo mais confortável para aquela criança.

Olho para a mão de uma delas é percebo uma doença de pele, me assustei um pouco, mas hesitei em perguntar se aquilo tinha sido uma queimadura, porém, de rabo de olho, vejo que a mão da outra menina, que parece ser mais velha, tem uma lesão bem maior do que aquela que estava no meu colo. Percebo que o cabelo de ambas tem uma textura bastante oleosa, e sujidade entre as unhas, que necessitam de corte. Chego à conclusão que a higiene pessoal era algo muito precário naquela família.

Enfim, nesse trajeto, inusitado e simples, consigo observar e através de pequenos gestos me sentir mais útil e, aos poucos, com atitude mais humanizada, contribuir com o próximo. Isso, claro, nos ajuda a dar menos importância aos nossos buracos mediastinais localizado levemente à esquerda.

Ladislau Araújo
Enviado por Ladislau Araújo em 27/07/2017
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