VINHO, SACOLAS DE SUPERMERCADO, NOTAS DE ESTÁGIO E OUTRAS COMPENSAÇÕES
Estou longe de ser um sujeito otimista e em eterna lua de mel consigo mesmo, do tipo que acredita até no lado bom dos políticos e tira lições de auto-ajuda das situações mais estressantes: não vou muito com minha cara nem gosto do meu nariz e algumas situações pessoais, amorosas ou diárias tendem a me derrubar, inda que não me matem. Quanto ao lado bom dos políticos, a julgar pelo comportamento dos que estão no poder, ele não existe.
Inda assim, por vezes acho poesia em algumas situações pequenas do meu dia.
Vejamos dois exemplos:
O primeiro: no último domingo, fui conferir a Festitália, na Vila Germânica de Blumenau. Assisti umas apresentações, comi algumas coisas, tomei uns choppes que também sou filho de Deus e, antes de ir embora, resolvi comprar um vinho. Mas aí deparei com uma das deficiências da festa: o estande que me vendeu o produto não tinha sacola para armazenar a garrafa. Talvez se eu comprasse uma caixa inteira de vinhos, ganhasse uma embalagem apropriada, mas eu só queria UMA GARRAFA DE VINHO! (MAS SÓ UM PAR DE MEIAS?! Como aquela propaganda antiga). Fui em outros estandes, abordei até a moça da limpeza, mas não consegui um mísero pacote de papel pardo pra esconder meu vinho e lá fui eu, feito pinguço inveterado, com minha garrafa de vinho, achando que todos na rua olhavam para mim. Quando passava próximo a uma grande rede de supermercados, uma sacola plástica vazia e limpa veio literalmente voando até meus pés. Com isso, pude carregar minha compra sem escancarar para todo mundo que eu levava uma garrafa de bebida alcoólica. Ou seja, de uma situação que estava tirando meu humor, fui salvo por uma sacola plástica de supermercado bailando ao vento como naquela bela cena do filme BELEZA AMERICANA.
O segundo: às vezes o coração do poeta, a vida, o destino e mais alguns coadjuvantes chatos se juntam para me pregar uma peça e o que parecia se encaminhar para um encontro feliz é estragado por uma situação trágica que acontece com a outra pessoa. Como poeta sofre em dobro, fico mais surrado do que cavalo de bandido e “nada me interessa nesse instante nem o Flávio Cavalcante que a teu lado eu curtia na TV”, Salve Raul Seixas! Mas aí, fui abrir minha página da faculdade e vi que tirei nota oito na minha apresentação de estágio, outra situação que estava me preocupando.
Quer dizer, não estou procurando uma compensação para diminuir minha frustração. Só estou querendo dizer que muitas vezes, quando estamos “patos” com uma situação chata, surge uma pequena compensação para salvar o dia.
É claro, também tem aquelas situações em que a gente descobre que é verdadeira aquela Lei de Murphy: “Nada é tão ruim que não possa piorar.” Mas isso é assunto para outra crônica.