LEMBRANÇAS.

    Há quinze anos atrás, no mês de julho, no seu décimo quinto dia, depois de um ano de espera, finalmente, eu havia sido chamado para trabalhar na companhia brasileira de Alumínio, que naquela época era dirigida pelo saudoso Dr. Antônio Ermírio de Morais.

    Tudo começou um ano antes, em dois mil e um, quando na ocasião, a minha avó foi até a casa do advogado da empresa, Dr Tadeu, para entregar-lhe um currículo do meu tio. Naquele dia o advogado estava um tanto quanto apressado, certamente seu dia não havia sido dos melhores, a fisionomia pesada de sua face falava por si. Para ver- se livre da minha avó, pegou o currículo do meu tio, porém não deu nenhuma esperança para uma vaga na empresa, mas… Fez uma promessa a minha avó, talvez imaginando que ela esqueceria a tal promessa. O advogado forçou um sorriso e disse.

   - Não posso garantir nada quanto a vaga para seu filho dona Nair, no entanto, volte daqui um ano com um currículo de seu neto, e prometo-lhe uma vaga.

    Lembro-me daquele dia perfeitamente, e da resposta da minha avó.

    - Olha lá, o senhor está prometendo, daqui a um ano eu vou voltar aqui com meu neto e o currículo dele.

    O advogado sorriu a segunda vez, trocou algumas palavras com a minha avó, e retornou para a empresa, ele estava em horário de almoço. Um ano depois, exatamente um ano, lá estava a minha avó, currículo nas mãos, ela esperava pelo advogado. De repente, veio ele, passos apressados, cabeça baixa, quando ele se aproximou da sua casa,  que era bem de frente da fábrica; levou um tremendo susto. Lembro-me da reação do Dr. Tadeu diante do sorriso da minha avó, que muito gentilmente lhe disse as seguintes palavras:

    - Lembra-se de mim Dr. Tadeu, há um ano atrás, você me fez uma promessa de uma vaga de emprego para meu neto, e aqui estou para lhe cobrar a promessa.

    Dr. Tadeu ficou mudo por alguns segundos, na face, o assombro.

    - Olá dona Nair, e não é que a senhora lembrou-se mesmo… Eu que já havia me esquecido.

    - Eu ainda tenho muito boa memória meu filho.

    Meu tímido sorriso, desenhou um discreto obrigado. O Dr. Tadeu pegou meu currículo, trocou algumas palavras com minha avó e entrou em sua casa para almoçar. Eu e minha avó voltamos para casa. Um mês depois, veio a tão esperada resposta, uma ligação do RH da empresa. No dia quinze de julho de dois mil e dois; eu era mais um entre tantos que entraram na empresa naquele dia. Naquela época a empresa crescia quase dez por cento ao ano, uma maravilha. Hoje, após quinze anos, seria um dia muito especial, se acaso eu ainda estivesse empregado. Por motivos que desconheço, eu fui demitido, ou como eles costumam a dizer, " Desligado" . Faltava pouco mais de um mês para completar quinze anos, mas nem tudo é como pensamos, e nem todos os sorrisos expressam verdades. Lembranças que dói na minha alma.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/07/2017
Código do texto: T6065171
Classificação de conteúdo: seguro