Quase-feliz
Há quem não dê um passo sem antes postar no Facebook. É um vício coletivo, característico dos nossos dias solitários, vazios, mas encantadoramente virtuais. Como eu também não fujo à regra, vou ali, mas primeiro preciso postar aqui que estou me sentindo meio estranha. E isso me incomoda muito.
Não gosto quando o meu coração fica em cima do muro. Prefiro um estado de alma equilibrado, definido, que me faça agir, reagir e optar pela luz quando indesejadas sombras ousam descolorir o meu mundinho quase azul.
Tenho saudades da minha bipolaridade juvenil que o tempo me tomou. Eu era rica de sentimentos e atitudes que me tornavam protagonista de estórias loucas, às vezes tristes, às vezes felizes, por motivos deliciosamente tolos. Agora, estou embrutecida. O que me move é o fim do mês. Descobri isso, recentemente, em uma noite insone, com os olhos mergulhados no breu do quarto. Concluí que, além de outras coisas, me viciei em empréstimos, porque data de vencimento de fatura sem grana é uma derrota. E eu detesto perder pra mim.
Estou cansada desse mundinho-prosaico-auriverde onde, todo dia ou mensalmente, a gente é quase-feliz! Felicidade não depende da Economia. Mas o sistema planetário fez uma tecelagem tão idiota quanto suspeita com os novelos básicos e fundamentais da nossa estrutura de vida que envolveu a felicidade - que já é uma agulha - nos abissais de um palheiro. E assim vamos nós diariamente, personagens de um filme de aventuras em busca do mapa da mina.