O respeito que todos merecem.
Para esta crônica mencionarei dois fatos curiosos que vivi e que me tocaram o coração.
O primeiro aconteceu quando estava trabalhando na Ford, era comprador técnico em químicos, e um dia atendi um senhor de aparentes sessenta e cinco anos, bem vestido e de boa fluência , estávamos fechando um acordo comercial em uma das salas de atendimentos. Quando chegamos a um acordo que era bom para ambos , lhe disse que poderíamos escrever o acordado e assinarmos, que para mim já significaria o primeiro passo, depois prepararia a documentação só para que tudo ficasse nos "conformes", assim ganharíamos tempo. Ele concordou e me confessou que tinha um problema psíquico e estava em tratamento, então o olhei curioso, e perguntei ; "Pode ser mais claro ?"
Uma pausa...então meio sem jeito, me disse; " Não consigo escrever, de uns tempos para cá...a mão trava, e está ligado as letras, a união das letras..." Fiquei perplexo !
- O senhor digita ?
- Sim, digitar tudo bem ...não sei explicar!
- E números ? Contas ?
- Sem problemas !
Me mantive tranquilo, com certa pena disfarçada, talvez eu estivesse sensível nesse dia (?), mas queria que ele ficasse bem e soubesse que não haveria problema, então lhe disse;
- Façamos o seguinte; escreverei à mão o que acabamos de tratar, o senhor lê o texto, que assinarei , tirarei uma xerox para mim e te mandarei um e-mail, então o senhor me dará um "De acordo" do seu escritório, está bem ?
Sorriu e notei o seu agradecimento, não pelo acordo em si, mas pela minha postura e respeito.
O segundo caso aconteceu quando estávamos escolhendo o apartamento na praia, os corretores eram pai e filho, ótimos , sérios e dedicados, notara o quanto ambos se entendiam, e que sempre era o filho quem tomava as rédeas da conversa. Me chamava de Sr. Aragón, educadíssimo, sem exageros, do tipo prático sem aflição, respeitando o meu tempo para decidir e escolher. Durante dias seguidos visitamos inúmeros imóveis, naquelas peregrinações que se fazem necessário.
Comecei a perceber que o rapaz nunca se aproximava das varandas ou sacadas, e o pai também se mantinha ao lado dele, e ambos pareciam tristes nessas horas, até que educadamente perguntei o que acontecia, então ele me olhou nos olhos com o olhar mais triste que se pode imaginar, as palavras pareciam não querer sair de sua boca, e os olhos marejaram...
- Sr. Aragón, eu estou em tratamento de depressão desde que a minha irmã se jogou do décimo terceiro andar, há alguns meses atrás nem conseguia tomar o elevador, hoje já consigo, mas não posso ainda chegar perto de varandas...
Olhei para o pai dele, que em silêncio deixou cair duas lágrimas ...
- Eu entendo, sinto muito, de verdade ...! Tocando o seu ombro em solidariedade.
PS; Aprendi o significado de "problemas emocionais" , não meu, mas de pessoas tão próximas, que te tocam a ferro em brasa, e é preciso ter muita sensibilidade, compreensão e sobre tudo muito amor e solidariedade, pois ninguém conhece os labirintos da mente humana.