Onde o tempo nada vale.
O portão se fechou atrás de nós, descemos para a apresentação de praxe na portaria, e preenchemos o requerimento .Como eu estava ao volante , mencionei os dados do veículo, e desci a rampa até o jardim onde se encontravam as vagas, logo mais à esquerda.
Pus a mão no relógio com vontade de arrancá-lo e atirá-lo por cima do muro, o tempo num lugar como este não faz o menor sentido, simplesmente não existe.
Enquanto caminhávamos entre as árvores num terreno plano e seco, avistamos algumas das antigas construções, que assim deduzi pela arquitetura, se assemelhavam as dos casarões da Paulista, poderia apostar que beiravam um centenário , mas foi apenas impressão, os olhos analisam e sintetizam aparências.
No instante da nossa chegada a portaria avisara discretamente a paciente através dos cuidadores, e lá estava ...adiante nos aguardando, ainda entre as árvores e os vários bancos por ali espalhados...me pareceu menor do que de costume, mas eu estava longe e mesmo assim notei uma fragilidade, diferente do dia em que a internei, e ela sabia muito bem disso. Me culpava , certamente, como sempre...pois era eu quem fazia o "serviço sujo", mas no meu interior nunca houve remorso, apenas dor...e muita .
Quando nos viu , depois de um mês de ausência, abraçou o meu irmão e o meu pai, e eu me mantive ainda distante, e só depois de um hiato, que me pareceu longo demais, é que veio até mim, e me tocou no rosto com a mão fria, e disse com voz pastosa ; " Por que ?", e logo agarrou o braço do meu pai, sem esperar resposta, caminhando até os seus aposentos...
Só Deus sabe o quanto era difícil para mim tê-la que internar, e porque essa tarefa horrível recaía sempre sobre mim, o nó na garganta não saía, e a voz continuava presa, mas sempre fui duro de chorar, embora o meu coração estivesse em prantos.
PS; A minha mãe esteve internada com esquizofrenia diversas vezes, e sempre pertencia a mim dar " um jeito".
Quisera não parecer tão forte, mas nunca pude deixar meu pai sozinho nesses momentos.