É tempo de férias!
Chegaram as férias! Que bom. Hora de pegar os pertences pessoais passear na casa de parentes, fazer peripécias. Subir em árvore, banhar na lagoa, comer aquela comida da vovó. Eita coisa boa! Mas hoje está tudo mudado.
A mãe reclama:
- Esse menino só que comer besteiras, dormir até meio-dia e passa o dia todo no sofá neste tablet! Assim não dar. Vou levar você pra consultar, fazer uns exames. Acho que não está sadio.
Aquele menino um pouco acima do peso, apenas com umas feridas nas pernas, dizem que é alergia de picada de insetos, os mais velhos afirmam que é sinal de verme. Então é hora de examinar.
Marina foi ao posto marcou uma consulta de rotina e delegou ao pai para levar o filho ao médico. No outro dia, Juca relutou:
- Não foi você que marcou? Pois leve.
- Você sabe que tenho que trabalhar hoje, não dar. Vá você mesmo.
-Eu não, esse menino está sadio.
A mãe retrucou:
- Consegui a consulta na maior marra, no postinho e você não vai? Ah, não! Vai ter que ir.
Tímido e desajeitado, o pai foi com o menino nutrido ao médico. E o tempo todo na sala de espera ele pensava o que iria contar ao médico o que o menino tinha. Lá, havia crianças realmente doentinhas, raquíticas, febris, chorosas em colos meigos. Muitas balbuciavam quase sem fala, desidratadas. No entanto, na cabeça daquele pai a interrogação latente continuava:
- O que dizer sobre o menino. Foi aí que se lembrou de um probleminha de constipação intestinal do garoto, foi o que salvou o pai já de mente foguetada. Chegou a hora de entrar no consultório e o médico pergunta:
- O que este garoto tem? Parece tão saudável.
- Ele tem constipação. Só faz aquelas bolinhas, e sente dores abdominais.
O médico analisou o peso do garoto, arregalou as pálpebras, e passou uns exames pra ver as taxas: glicose, colesterol, triglicérides, e outras. O pai pediu que acrescentasse na requisição exames de fezes e mais ainda, o médico recomendou levar o menino ao nutricionista e acrescentou de imediato um remedinho a base de fibras pra ir amenizando a situação da privação.
Os exames foram marcados pelo SUS para um laboratório insalubre, mas a atendente toda exigente, quando viu os materiais do garoto em potes recicláveis logo fez um bico, e disse que não receberia naqueles recipientes, deveria está em potinhos apropriados comprados em farmácias. Marina até tentou convencê-la dizendo que foi escaldado e lavado, mas não foram aceitos. A mãe pensou em dizer umas verdades antes de descartar aquele material humano. Mas...
- E o sangue? Vai tirar? Por que vim aqui numa lonjura desta ...Ih!
- O sangue vai ser colhido, amanhã traga as fezes e a urina novamente.
Ali numa balde impróprio o material foi descartado. A mãe viu seu potinho cheio de bolinhas jogado fora sem precisão; só frescura mesmo da atendente: - Disse a mãe.
O pai esperava do lado de fora e a mãe saiu com uma cara de chateação reclamando do atendimento, da frescura da atendente e afirmando:
- Ah! Como vem, amanhã esta bosta vem do jeito que ela quer. Compre os potinhos na farmácia! A bonita não aceitou os que eu trouxe. Que horror!
Foram pra casa. O garoto reclamando do jejum, queria saborear seu cuscuz com pó de chocolate e suco. Era sempre assim todas as manhãs.
- Vai menino tenta fazer de novo! Era mensagem chegando todo hora no whatssap.
E nada. Passou a tarde toda, veio a noite, o dia amanheceu e o garoto apenas urinou. Na hora do pai levar o material viu que havia os dois potinhos, um bem cheio de fezes e logo perguntou à mãe:
- Ele conseguiu?
-Sim!
- Graças a Deus.
A mãe sorria que os músculos abdominais contraiam-se de dar dó. Não sabia como explicar, mas declarou em meio os risos que a fezes eram dela e justificava que iria fazer a coleta dele, e levar em um laboratório particular e na hora de mostrar o resultado dos exames para o médico ela se responsabilizaria em explicar o mal entendido.