Seu Antoninho vai embora
Hoje recebi a noticia que meu amigo seu Antônio Ferrari Machado, após mais de 50 anos, vai deixar Redentora para se juntar com a sua família na região central do Brasil. Nascido em Palmeira das Missões, seu Antoninho Ferrari foi fotógrafo, juiz de menor e participou sempre ativamente da vida em comunidade em Redentora.
Foi no tradicionalismo que eu conheci esse senhor de bombacha, óculos e fala mansa, que atualmente ostenta a função de Patrono da 20ª Região Tradicionalista, um cargo de tamanha importância que é vitalício sendo substituído apenas um ano após a morte do detentor de tal honra. Seu Antoninho recebeu o titulo de seu Nerci Liberato da Conceição, que empresta seu nome a estância de rodeios de Santo Augusto.
Participou da luta de emancipação de Redentora, foi vereador quando Redentora ainda dava seus primeiros passos com as próprias pernas e ajudou a fundar o CTG Darcy Fagundes, a APAE, o Clube 9 de Julho, o CTG Lenço Colorado que não existe mais e esteve presente ativamente na vida de diversas entidades redentorenses.
Tive o prazer de entrevista-lo pelo menos uma dúzia de vezes e aprender uma pequena fração do que esse senhor tinha para ensinar. Lembro-me de pelo menos uma meia dúzia de seus discursos nos eventos de 7 e 20 de setembro no palanque oficial da Praça Redenção, quando eu ainda era um menino e ficava em fila indiana fingindo ouvir os discursos das autoridades municipais.
Nunca gostei muito dos discursos feitos nesse tipo de evento, porque vamos combinar, na maioria das vezes eles são chatos, vagos e longos. Que me perdoe os prefeitos que por venturem leem minha coluna, por favor, escrevam seus discursos e economizem nas palavras, falar pouco e falar bem, torna-se falar muito. Os discursos do Seu Antoninho eu lembro, pois ele sabia o que falar e como falar. É uma pessoa que usa as palavras com grande sabedoria.
É um homem de grande conhecimento e de muitos talentos. Guasqueiro. Lembro-me que o pouco que sei em teoria sobre de arte em couro, que eu tanto admiro, me foi ensinado por ele. Acho que mais de uma centena de meninos que participaram das gincanas estudantis de Redentora usaram o seu Antônio Ferrari Machado como fonte. Tenho certeza que você consegue muito mais historias sobre o município em uma conversa de dois minutos com o seu Antoninho do que em um dia de pesquisa no Google.
Estou falando isso porque julgo que precisamos valorizar pessoas como ele. Elas merecem o nosso reconhecimento e mais do que isso merecem serem homenageadas em vida. Se me permitem os vereadores de Redentora, sugiro que construam um monumento a esses cernes da historia do município na Praça Redenção e deem a ele o nome de Antônio Ferrari Machado. Sei que isso de homenagear pessoas vivas às vezes esbarra na lei, mas sugiro de todo o coração, como um nascido em Redentora, que ama esse munícipio, que mudem a lei se necessário, e façam uma homenagem a esse grande homem que agora vai embora, em tempo que ele possa ver com os seus próprios olhos. Homenageiem o homem e não a sua memória.
Sei de todo o coração que existem muitas outras pessoas que merecem tais homenagens, mas sugiro a esse homem, porque sem qualquer sombra de dúvida, daqui a muitos anos, gostaria que meus netos olhassem para um monumento assim e soubessem que o avô deles teve o prazer de conviver com alguém que fez tanto pela cidade.
Numa das muitas conversas que tive com o seu Antoninho ele me contou algumas historias sobre o meu bisavô paterno, que não conheci. No grande acervo que seu Antoninho tem em casa há uma faca que foi do meu bisavô. Tive o prazer de segura-la em minhas mãos e isso me trouxe um sentimento de orgulho familiar, que não conseguiria descrever em palavras.
Seu Antoninho ao meu lado disse: “Seu Bisavô foi um grande homem”. Não sei, acredito que tenha sido, mas como não o conheci não posso atestar nada, tenho que acreditar na palavra do seu Antoninho, mas conhecendo-o tenho plena convicção que mesmo que meu bisavô não tenha sido um grande homem, ele jamais diria o contrário, afinal seu Antônio Ferrari Machado é de um tempo em que a educação e o respeito superavam qualquer outro valor.
Hoje aproveito esse humilde espaço para homenageá-lo e mais do que isso parafraseá-lo: Seu Antoninho, o senhor é um GRANDE HOMEM, e pelo menos para esse humilde escriba, não tenha dúvida, o senhor fará muita falta. Redentora fica mais pobre culturalmente sem a sua presença mateando na área da casa de madeira, na esquina da Câmara de Vereadores. Boa Viagem e boa sorte em sua jornada meu amigo.