À sombra do bode
Que uma espécie de mortalha paira sobre o Brasil, acho que muitos vão concordar. Em se tratando de nós, caricoas, a mortalha cobre o corpo geográfico e a alma histórica. Vivemos dias, no mínimo, esquisitos e desconexos de tudo o que carregamos até aqui.
Não lembro de ter ouvido, ou lido, nada que se compare a esses dias estranhos de medo e ódio. A alegria da nossa gente, tão decantada e admirada pelo mundo, acabou. A hospitalidade saiu de cena e deixou o palco livre para os ataques de uma espécie 'alienígena', que na prática vive no planeta Exclusão.
Muito tem-se discutido sobre a polaridade política e a falta de conhecimento de quem saiu às ruas, empurrado por um sentimento negativo, cultuado e inflamado pelos supostos 'donos' do negócio. Essa discussão tem fundamento e é ungida de todo sentido. Essa sombra estrambólica começou a se fazer presente nos muros, em 2013. Como tudo que é sorrateiro por excelência, surgiu dentro de uma bolha simpática para angariar fundos solidários de incautos e revoltados.
Claro que, como toda semente, precisava de terra férti para expandir, e motivos tínhamos de sobra: A repressão policial na ocupação pelos índios da aldeia Maracanâ; o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus e, com pompa e adubo, a roubalheira notória na perseguição ao tesouro do 'padrão FIFA', nos preparativos para a Copa. O cenário estava armado para a desestabilização política, social e econômica, suficientes para o que viria ano seguinte: As eleições presidenciais.
Apesar de todo o estrago, a arma não se mostrou letal e os organizaodres do caos partiram para algo mais ousado, uma estratégia mais eficiente e, por isso mesmo, devastadora. Com o controle comportamental de um público de fácil laço, apontaram seus canhões para o pasto das redes sociais. E foi ali, que fizeram o replantio da semente do ódio e da intolerância.
A raiz da violência cresceu e sua frondosa árvore começa a incomodar até quem ajudou no preparo do solo para o plantio. A sombra subterrânea traz no DNA a justiça seletiva, que dá sustentação a todo o processo degenerativo de uma sociedade pós-GOLPE.
Ricardo Mezavila