Pega ladrão !
Corria mais veloz que podia. As pernas, pequenas e magras, faziam a troca de passos no ar, rapidamente. Pés descalços com solas grossas, de tanto andar pelas ruas sem calçado algum. As roupas eram sujas e rasgadas, cabelo desgrenhado. Na mão esquerda segurava um pequeno saco com laranjas.
Em seu encalço, bem atrás, vinha o dono das laranjas roubadas. Gritava. Praguejava. E corria, tentando alçançar o ladrão juvenil.
O pequeno suava ofegante, perdia o equilíbrio algumas vezes, talvez pelo peso das laranjas ou pelo cansaço de correr tanto e tão rápido. Ou ambas as coisas, quiçá.
O quitandeiro estava já prestes a desistir da perseguição, não tinha mais idade suficiente para tamanho esforço físico. O garoto, inocente, avistou um muro pouco mais alto que ele próprio, teve a certeza confiante das crianças de poder ultrapassá-lo. Tomou fôlego, pegou impulso e pulou por sobre o muro, mas não viu a placa que advertia sobre o cão feroz que habitava o outro lado.
Tripas, sangue e laranjas por todo lado.