Sonhos...
                pesadelos...
                       e soluços



           1. De uns tempos para cá, dei para acordar sobressaltado e choramingando! Isso vem acontecendo, tanto no sono solto das madrugadas, como nas ligeiras sestas de depois do almoço, que cultivo, como se cumprisse uma inarredável liturgia. São os pesadelos a me perseguirem...
          2. Dia desses, acordei chorando! Chorava tão alto, que, por pouco, não matei Ivone, minha mulher, de susto. Por ela interpelado, que, com razão, quiz saber o que de fato estava acontecendo, tranquilizei-a, dizendo-lhe que acabara de sair de um infame pesadelo.
          3. Com tantos pesadelos prejudicando meu sono, creio ter ultrapassado, definitivamente, a maravilhosa fase dos bons e risonhos sonhos... São cada vez mais raros, digamos, os sonhos provocadores de soberbas e inesquecíveis ejaculações... 
          4. Tirava eu um confortador cochilo noturno qando, de repente, me vi envolvido num daqules sonhos que nunca deviam terminar. Nele, voltei a um lugar no qual estivera há mais de meio século, e senti muita saudade!
          
5. Voltei à fazenda Monte Alverne, uma pequena e aprazível propriedade de minha tia Rute, católica de terço, missal e fita de filha de Maria a ornar-lhe as mãos e o peito.
          
6. A casa da fazendola ficava na parte mais alta de um serrote; mais perto do céu, portanto. Do seu alpendre, onde se podia armar várias redes, a gente avistava um barrento açude,  em todas as horas frequentado por irrequietas jaçanãs.
          
7. Ao lado da casa, com seu acanhado campanário visitado o dia todo por rolinhas e juritis, uma modesta capelinha de São Francisco de Assis.  Todos os domingos tinha confissão, tinha comunhão, sermão e missa. No sonho, eu entrava na igrejinha do Monte Alverne e me ajoelhava no altar-mor. Acordei quando começava a fazer uma prece.
          
8. Se alguém, naquele momento, me perguntasse por que tantos soluços, lhe diria, sem hesitações: com saudade da fazenda Monte Alverne, onde, em muitas tardes ouvira o arrulho plangente dos sabiás e graúnas; e vira outros passarins chegando, na hora do crepúsculo, procurando um lugarzinho entre as telhas vãs da capelinha franciscana. Ali pernoitavam.
          9.Volvidos tantos anos - mais de cinquenta anos - acho que o Monte Alverne não mais existe. E a imagem do Pobrezinho, com pouco menos de um metro, em que altar estará? É difícil saber...


     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 13/08/2007
Reeditado em 27/09/2019
Código do texto: T605636
Classificação de conteúdo: seguro