Nem Tudo É Aquilo Que Parece Ser
Eric do Vale
Uma senhora comentou que, quando jovem, foi repreendida pela mãe, ao cantar a música Mon Amour Meu Bem Ma Femme. Só por causa da última palavra, feeme. Além de estranho, esse escarcéu, para os dias de hoje, pode ser considerado como algo engraçado, visto que tal termo não apresenta nenhum significado chulo
Qualquer pessoa que se interesse em aprender uma língua estrangeira perceberá, quando procurar no dicionário, que femme nada mais é do que mulher. Assim que comecei a estudar francês, observei que, na maioria das vezes, alguns termos estrangeiros, quando incorporados na gíria brasileira, adquirem um sentido pejorativo.
A coerência dessa afirmativa pode ser constatada no final do século XIX e início do Século XX, período em que a população brasileira aderiu ao padrão cultural francês. Um exemplo típico são os bares, confeitarias e restaurantes que passaram a ser chamados cafés ou bestrau.
Os bordéis brasileiros também adotaram esse tipo de comportamento, daí alguns termos utilizados pelas “femmes” desse estabelecimento. Por isso, a língua francesa passou a ser hostilizada pela ala tradicional e puritana do nosso país. Mesmo que, atualmente, o inglês ocupe o pedestal de idioma universal a língua francesa, nos dias atuais, apresenta, injustamente, um quê de pecaminosidade, aqui no Brasil.
Rendez-vous é um exemplo disso: em seu país de origem, significa encontro; enquanto que aqui, no nosso país, essa palavra apresente uma outra conotação. E, diga-se de passagem, bem pejorativa.
Da mesma forma, é o termo Madamme: uns poderão achar que essa palavra esteja vinculada a uma mulher refinada e detentora de posses, quando, na verdade, era utilizada pelas cafetinas.
Ninguém tem obrigação de conhecer uma língua de forma tão aprofundada, mas, diante desse exemplo, torna-se necessário possuir uma noção básica na iminência de evitar-se certos choques culturais.