Minerês: caipirice?
 
 
O minerês é histórico: foi inventado na época da exploração aurífera para que os que vinham de fora da província (emboabas – palavra indígena) não tomassem conhecimento de recursos disponíveis e onde encontrar possíveis lavras de ouro. O minerês é parte do conflito dos emboabas que marca a história mineira com seu Rio das Mortes, Capão da Traição e Campo Lide.
 
É um recurso de estratégia geopolítica que mantemos com muito orgulho.
 
É por isto que também temos fama de desconfiados, mas de povo acolhedor (desconfiávamos de quem vinha explorar e acolhiamos os tropeiros que vinham somar).
 
Quem pensa que mineiro é bobo (com seu jeito matuto) vai cair na boca do lobo (bueiro de rua ou buracos de lavras); o ali de mineiro é lá - lá longe - e só nós sabemos a real distância.
 
A página virtual “Conheça Minas”
(muito antes de ser bairrista é uma fonte de informação da cultura turística e geográfica mineira)   apresentou esta lúdica receita adaptada que muito serve de exemplo do quase dialeto, muito mais que sotaque, que é o minerês:
 
 
“Moi de repôi nu ai ioi
 
Ingridients:
 
5 den di ái
3 cuié di ó
1 cabêss di repôi
1 cuié di mastumati
Salagosto
 
Mé que fais?!
 
Casca u ái, pica u áie
Soca o ái cum Sali.
Squentói;
Foga o ái no ói quentinho.
Pica o repôi.
Poim a mastumati e mesh
Cacuié pra fazer o mói.
Prontinho!”
 
Isto me reportou a um tempo em que eu encontrei receitas anotadas por minha mãe em folhas avulsas na época em que ela morava lá na fazenda Cruzeiro de Desterro do Melo. Entre tantas preciosidades lembrei-me de ter lido, o que não fugiu da memória, em uma das receitas: “culer de mantêga e xicra de assugra”.
 
Meu pai, que provinha de uma família burguesa letrada e por isto buscava sotaques urbanos carregando o S de suas “esscadass”, deu para minha mãe, como forma de matar o seu caipirês próprio, o livro de culinária “Dona Benta”.
 
A partir daí a transcrição de receitas ficou a cargo de minhas irmãs em seus cadernos.
 
O livro de culinária ficou guardado e nossa cozinha se aportuguesou com toques de sugestão dada por meu pai e suas sardinhas e peixes à moda da família paterna.
 
Quem conhece suas origens sabe onde e como quer chegar. E chega ali – ali perto ou lá longe, uai!
 
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 09/07/2017
   
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 15/07/2017
Reeditado em 15/07/2017
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