Rascunhos poéticos para arquivo e registro
Bom veneno é o que mata; gente do "bem" também faz maldades, por isso tenho dispensado bondades de gente ruim. Antes só na multidão, que sozinho com o ladrão.
A rima, como disse Drummond, pode ter sonoridade, mas nem sempre é a solução. Talvez por isso eu não me chame Raimundo, nem tente mais mudar o mundo. Mudo a mim mesmo no meu canto, sem fazer mal a ninguém. Isso pra mim já tá" bão", né Sebastão?
Acho opinião fixa e ideologia grandes besteiras. Caminho contra o vento, tento fazer o que penso, agir sem agredir, filosofar pelos cantos, poetar, vez em quando. O que é certo não precisa de enfeites. Por isso durmo na rede ou no colchão, mas já não sonho mais com berço esplendido.
Chamam-me de Célio, nem por isso vou me levar a sério. O que se leva da vida é nada, muito menos opinião, o que importa é fazer nada, vez em quando, depois de trabalhar muito. Mesmo que não fique rico com salário não lamento, pois faço o que gosto e assumo os riscos.
Tenho muito pra ser dito, mas não acho necessário, minha mala cabe numa necessaire, tento me desvincular da bagem, principalmente das mentais, não sei levitar, medito e respiro no ritmo, quicá.
Tudo é uma questão de medida e dosagem, o que dá prazer também mata. Amor demais é um engano.
Ele era todo cheio de si, até descobrir que era um plástico-bolha.
Pessoa perfeita não existe, o que há são expectativas não cumpridas. Acho que pessoa muito certinha e arrumada é irreal, quando não é totalmente falsa, o que não significa ser elegante, que é outra praia.
Os hindus, em suas religiões e crenças, dizem que tudo tem vários níveis de entendimento, sete, se não me engano, talvez por isso as pessoas hoje, cada vez mais dispersas, distraídas e voláteis se desentendam muito, sem contar com analfabetismo semântico: lê e não entende nem o que é o nível mais básico, quanto mais sete.
Cada seção de terapia, de 40 minutos, tem me rendido pelo menos três laudas de palavras - me apareceu um defeito de fabricação - ficar sem fazer nada tem sido um aprendizado que ainda não domino, ainda mais olhando para a paredes amarelas da clínica?
Só gosto de ficar sem fazer nada, se for no Sol de outono ou inverno, dando uma de jacaré. Trabalhar é um vício, que preciso combater.