Mundo de rosas

Clique aqui para um botão de rosa tipo Hebe Camargo. No momento estamos enviando apenas rosa “abstrata” do tipo Hebe Camargo. Clicou, recebeu! Portanto você ganhou a rosa Hebe Camargo virtual. Mental. Bonita rosa. Semelhante a do catálogo Roselândia Cotia. Catálogo que encontrei no único Sebo da cidade meridional. Lá estavam elas: a Golden Delight, a Marabá e a Hebe Camargo. Talvez alguém acredite que a oferta contenha a dama Sex Hot dentro da caixa e outras rosas. Grátis! São os tempos modernos. Esta última uma imagem de coisa. Mas não é nada disso. A parte desconhecida da dedução pode ser um inferno nos juízos virtuais.

Cancelado o brinde que de fácil tornou-se improvável notou que sem o valor facial a comunicação pode conter outra mensagem. O maldito óbvio atordoado dos nossos dias. Óbvio revoltante mais uma volta e meia. O caminho é cheio de expressões desconhecidas que todo mundo aceita e ninguém entende. Temente que a partir de certo limite apenas para utilizar a palavra “uau” se torne necessário um gordo desembolso. Nisto as palavras comuns entrariam em colapso. Voltaríamos ao laconismo por impedimento da expressão diária “venha jantar”, “ que legal”, de propriedade já estabelecida. O mundo tem a tendência de nos deixar calado.

A máquina segue deletando páginas que desfilam rapidamente pelos olhos sedentos. Muito embora algumas continuem cheias de buracos brancos onde deveriam existir rosas. Vale lembrar que o tempo empregado em cada uma delas devora o ocioso. Haverá no futuro um significativo número de navegadores com fundo zero e cabelos brancos. Não vamos tão longe. Que ausência de pecúlio é vergonha nesse universo onde quase ninguém tem... é de estranhar. Lidar com isto é difícil. A saída é a praia. O mar continua sendo um velho recurso. Depois voltar para o apartamento em silêncio absoluto. Ligar o computador. A importância do computador é grande. E quem defenderá as incertezas da facilidade nessas horas de fuga prática?

O prazer total de seguir virtualmente ora se abstrai ora se consubstancia. Há os que trabalham. Já com as primeiras aberturas definidas e os movimentos esclarecidos pelo plano de metas num marketing acelerado. Há os quixotescos. No virtual, arena de donatários, há certa acolhida. A página aberta surgirá com trajes de púrpura. Nela é preciso conquistar um espanto, ganhar a vida esquecendo a conta errada, os dispêndios ocasionais, a carestia dos remédios, a odontologia cheia de dentes estragados do tédio.

Ontem deu praia. O avô ia ao chope tiradinho no Odeon. A tia passeava no consulado. O tio seguia para o médico. Vovô era um caso a parte, ia ao museu, mas a idade o aniquilava. Procurava o amor e não encontrava. Queixava-se do extravio na complexidade dramática das coisas mesquinhas. Linguagem apreendida das novelas tecidas com científico terrorismo mental à guisa de realidade. Queria viver num ambiente onde a violência insensata dos impulsos mal cultivados fosse nada como a areia fina. Ligava o micro, olhava a janela, a janela se abria. Havia festa de luzes e cores, anúncios relevantes e clientes em poucos minutos.

- Uns ligam o micro em busca de conjugação, outros para saciar a seca de efígie.

A grande exterioridade se expandia na multiplicidade imensa de informações e na verdade sentimos que a idéia era de uma lâmpada incandescente que norteasse a opacidade.