A hora do almoço
Lá estava a moça em sua hora de almoço.
Ela pede o de sempre, um salgado e um suco de goiaba.
Ela faz o de sempre, procura uma mesa vazia pra comer e se atualizar quanto aos fatos do mundo
Mas neste dia coisas diferentes aconteceram.
Primeiro um senhor pede que a moça olhe sua bolsa enquanto ele vai ao banheiro, a moça, muito gentil, diz que sim.
Após comer, ler todas as notícias, a moça decide usar o seu tempo restante de um modo um tanto inusitado para o local. A moça resolve reparar a unha borrada, anda sempre com um esmalte na bolsa justamente pra isso.
Enquanto tentava tapar os buracos que insistiam em abrir em suas unhas a moça é interrompida por um senhor de cabelos brancos.
- A moça é manicure?
- Não.
- Por que não é manicure?
- Não tenho talento para isso.
-A moça tem talento para quê?
- Dizem que tenho talento pra escrever.
- É mesmo?
- Sim, até já lancei um livro.
- Nossa! Quantos anos você tem?
- 25.
Então a moça fala um pouco de si, que fez jornalismo, que não conseguia um emprego em sua área, que amava escrever, o senhor de cabelos grisalhos também, disse que era médico, que morava ali perto.
- Menina, eu posso te ajudar. Me dá o seu cartão.
- Eu não tenho cartão.
- Você tem que ter um cartão. Qual seu nome?
- Tamiris.
- Tamiris, anote seu número num papel que entro em contato.
A moça então faz um cartão manual e entrega ao senhor, que então se despede e vai embora.
Tão inesperada quanto a primeira foi a segunda abordagem.
O senhor do início da história, que havia pedido​ para a moça olhar sua bolsa também começa a puxar assunto
- Oi, desculpe mas eu posso falar com a morena?
A moça fica reticente, o "morena" não lhe soava muito bem, mas dá atenção ao senhor.
- Claro.
- Eu sou uma pessoa muito observadora e fiquei prestando atenção, vi que você é muito centrada, na sua conversa percebi que é bem articulada, deve ter o pensamento rápido. Posso te dar uma dica?
- Sim.
- Da próxima vez passe um rubi com café, vai ficar lindo!
Diz, pegando em sua mão.
- Ah, tá, pode deixar.
-Como é o seu nome?
- Tamiris, e qual é o seu?
- ( insira aqui um nome francês impronunciável)
- Foi um prazer
Disse a moça, já se despedindo
- Já vai?
-Sim, estou na minha hora de almoço, mas eu venho aqui todo dia.
- Ah sim, eu não venho todo dia, mas quem sabe a gente não se esbarra pra conversarmos? Com todo o respeito, obviamente.
E a moça, que sempre teve medo do outro, percebe que para viver e conhecer grandes histórias​ é preciso se abrir para o acaso, e pra isso, é preciso empatia, disposição, e acima de tudo, coragem.