Nunca saiu da minha memória...

Numa tarde de verão o ocaso já pintava no céu seu arrebol. Entrei num beco e me deparei com um menino.

Fiquei em silêncio, enquanto que, nossos olhares se

cruzavam como se conhecêssemos há décadas.

Seu barraco se equilibrava sobre um riacho poluído, pois as águas num eco plangente pareciam gritar: “Nascemos numa fonte virgem e bela, mas ao longo do nosso curso somos poluídas, assim agonizamos e morremos na foz.”

Não havia vestígio de urbanização. Ali reinava a miséria. Vitor e seus irmãos eram frutos de uma sociedade de imensa desigualdade social, que persiste até os nossos dias.

A cena do menino Vitor ficou cravada na minha memória:

“Estava de pé sobre uma escada que não era de mármore de carrara, mas de tábua de caixão.

No seu rosto lívido desprendia um doce sorriso, seu olhar transbordava doçura e resignação.

Como se um rei ele fosse, era circundado pelos irmãos.

Num trono pobre e vazio, em vigília nas noites frias

velava pelo sono de João, Pedro e Maria.”

Anos atrás fiz um trabalho em uma favela do ABC Paulista. Conheci o Vitor e nunca mais me esqueci desse dia.

magda crovador
Enviado por magda crovador em 12/07/2017
Reeditado em 12/07/2017
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