A ACÁCIA
A ACÁCIA
Ela tem 25 anos, na última sexta-feira sofreu uma poda radical, havia passado dos limites e atingido a rede elétrica, podendo, segundo técnicos, provocar cortes de energia ou causar acidentes a patrimônios públicos e/ou privados. Seus belos galhos e folhas vieram ao chão e em instantes foram moídos por um equipamento cheio de dentes afiados, restou um tronco sem membros, nu, aparentemente sem vida e desprovido de majestade. Não houve protestos de seus moradores habituais, pardais, rolinhas e bm-te-vis, foram despejados, sem aviso prévio e sem autorização judicial, alguns ovos embrionários foram esmagados, junto com seus ninhos, que tanto trabalho deram para ser construídos. Foi-se também sua sombra, disputada arduamente por veículos de todas as marcas e, vez por outra, por algum transeunte menos favorecido, buscando abrigo do calor inclemente que o assolava. Na manhã de sábado, um silêncio sepulcral, não houve sinfonia de pardais ao amanhecer, também não houve os bem-te-vis estridentes, também sumiu a rouquidão das rolinhas, onde andarão, onde foram se abrigar, quem sabe em casa próxima, cheia de membros e vida verdejante, espero que sim. Sobrou um espectro, uma tristeza imensa, uma saudade que nunca mais será a mesma, da minha querida acácia imperial, que espero consiga reviver em verde e flores amarelas que tanto apreciei, e que seque a lágrima solitária, dando esperança de vida a uma calçada cimentada e a uma rua asfaltada, repleta de fios que carregam conforto sem sentimentos.