Olha o Verdureiro!
Esta crônica foi escrita em 1994. Relutava publicá-la, pois, como se sabe, o gênero retrata um momento. Eis que a cena está de volta. Faz parte do meu livro de bolso, Crônicas do Cotidiano Popular - edição do autor - 2006 - esgotada.
Todo dia ele sai com seu carrinho de mão, lotado de verduras. Sai gritando pelas ruas: - Olha o verdureiro!
Sua chegada acontece em boa hora, para definir o cardápio do dia. Pronto: - nada de frango, hoje vamos comer couve com torresmo e angu – diz alguém na cozinha.
No início o grito e as batidas no portão (nem todos têm interfone) incomodavam, pois podíamos estar no banheiro ou com uma panela no fogo. Mas fomos nos acostumando, a tal ponto, que quando chega lá pelas dez horas, sentimos sua falta.
Seu grito ecoa em nossos ouvidos. Às vezes ele tarda e falha. Pode estar percorrendo outras ruas do bairro.
Nestes tempos de modernas tecnologias, quando se compra de quase tudo sem sair de casa, pela internet ou pelos tele-vendas, estranho que ainda não tenha surgido no mercado os tele verduras. Ainda dependemos do verdureiro com o seu arcaico carrinho de mão. Contudo, hoje ele faz parte do nosso cotidiano. Bendito verdureiro que nos poupa o sacrifício da caminhada ao supermercado ou ao sacolão em busca de um pé de alface.
É, mas é bom irmos colocando as barbas de molho, pois, segundo o Presidente da República, o país não pode conviver mais com modelos ultrapassados, precisa se modernizar. “Quem pode, pode, quem não pode se sacode”, diz o dito popular.
Por conta desta tal “modernidade globalizada”, com o desemprego aumentando a cada dia foi que o nosso irmão verdureiro buscou uma saída, para ganhar o seu pão de cada dia. Também conhecida por “atividade informal”, uma maneira sutil e cínica de classificar o cidadão desempregado e sem carteira assinada, sem eira nem beira, que tenta se agarrar a uma tábua de salvação, para escapar do naufrágio da fome.
Não sabemos até quando ouviremos o grito:
OLHA O VERDUREIRO!
Imagem: Melris
Esta crônica foi escrita em 1994. Relutava publicá-la, pois, como se sabe, o gênero retrata um momento. Eis que a cena está de volta. Faz parte do meu livro de bolso, Crônicas do Cotidiano Popular - edição do autor - 2006 - esgotada.
Todo dia ele sai com seu carrinho de mão, lotado de verduras. Sai gritando pelas ruas: - Olha o verdureiro!
Sua chegada acontece em boa hora, para definir o cardápio do dia. Pronto: - nada de frango, hoje vamos comer couve com torresmo e angu – diz alguém na cozinha.
No início o grito e as batidas no portão (nem todos têm interfone) incomodavam, pois podíamos estar no banheiro ou com uma panela no fogo. Mas fomos nos acostumando, a tal ponto, que quando chega lá pelas dez horas, sentimos sua falta.
Seu grito ecoa em nossos ouvidos. Às vezes ele tarda e falha. Pode estar percorrendo outras ruas do bairro.
Nestes tempos de modernas tecnologias, quando se compra de quase tudo sem sair de casa, pela internet ou pelos tele-vendas, estranho que ainda não tenha surgido no mercado os tele verduras. Ainda dependemos do verdureiro com o seu arcaico carrinho de mão. Contudo, hoje ele faz parte do nosso cotidiano. Bendito verdureiro que nos poupa o sacrifício da caminhada ao supermercado ou ao sacolão em busca de um pé de alface.
É, mas é bom irmos colocando as barbas de molho, pois, segundo o Presidente da República, o país não pode conviver mais com modelos ultrapassados, precisa se modernizar. “Quem pode, pode, quem não pode se sacode”, diz o dito popular.
Por conta desta tal “modernidade globalizada”, com o desemprego aumentando a cada dia foi que o nosso irmão verdureiro buscou uma saída, para ganhar o seu pão de cada dia. Também conhecida por “atividade informal”, uma maneira sutil e cínica de classificar o cidadão desempregado e sem carteira assinada, sem eira nem beira, que tenta se agarrar a uma tábua de salvação, para escapar do naufrágio da fome.
Não sabemos até quando ouviremos o grito:
OLHA O VERDUREIRO!
Imagem: Melris