Diário e Amor

Na vida sempre somos surpreendidos. Um exemplo: nunca pensei que iria me deparar com algo que escrevi, há mais de cinquenta anos, num Diário de uma moça minha conhecida. Naquela época, acho que 1959 ou 1960, eu devia ter uns 17 ou 18 anos, a idade dela. Era namorada do meu melhor amigo, casou-se com ele, mudaram-se para São Paulo mas nunca perdemos contato, eles sempre me telefonam. Pois bem era costume das moçasterem um diário, uma espécie de caderno de capa dura e bem grosso. Nele elas escreviam pensamentos, confidências, letras de música... Um dia ela pediua todos os seus amigos e amigas que escrevessem algo no seu diário sobre o amor. Pelejei para não escrever. Era meio rebelde e estava num momento dificil, tão ligados? Mas a amiga insistiu e eu escrevi, ainda lembro com uma caneta Parker 51 dela. Escrevi uma espécie de arenga, mas escrevi. Ela guarda ainda esse diário e resolveu mandar um xeróx do que escrevi. Ri muito quando li, ri da letra, do conteúdo, das besteiras que escrevi, mas, confesso, que de certa forma ainda penso quase do mesmo jeito. Eis o teor do escrito:

"O amor não manda recado, não faz reclame, nem alarde. O amor simplesmente acontece, independentemente até da vontade e da razão. A força do amor é como um vendaval, um furacão, um terremoto, um vulcão. O amor é uma força da natureza. Não existe amor comportado. O amor é mal-comportado. É um moleque transviado. Desrespeita e desafia tudo e todos. Sim, o amor é paixão. E daí? Amor sem paixão, é so conveniência, tolerância, tédio".

Mostrei a um professor que gosta de ler esse tipo de escrito antigo, ele riu muito do vendaval, furacão, terremeto e vulcão. Riu que embolou, mas gostou tanto que tirou uma cópia. Vai mostrar aos alunos como no passado os garotos escreviam. Os alunos vao rir muito, vão rir tanto quanto riu meus netos. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 08/07/2017
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