LEMBRANÇAS & SAUDADES! (Jorge Lopes da Silva}
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Lembro e tenho saudades de quando voltei a morar em Manaus, em 1968 e puxava água do poço na casa de minha madrinha Natércia Januário Calado, no Morro da Liberdade. Lembranças e saudades das professoras primarias, chamadas de "tias" Aidê, "Chiquinha" e de Rosa Eduarci Marinho. Não sei se seus "sobrinhos" ainda lembram e sentem saudades de suas "tias" como eu!
Tenho lembranças e sinto saudades de quando fazia compras na "Casa 3 Irmãos" e olhava sempre para um uma moto "estranha" ao meu olhar, com um leão pintado na porta "CASA LEÃO"(parece que uma empresa que fazia consertos de eletrodomésticos) informando a quem pertencia o motorizado.
Tenho lembranças e sinto saudades de quando tive meu primeiro dia de aula no "Grupo Escolar Adalberto Vale", com a diretora Alda Figueira Péres considerada rígida demais (não para os padrões da época de Governo Militar, quando alunos respeitavam suas “tias”). Os alunos tinham jantar o Hino Nacional com a mão no peito, hino à Bandeira que na gozação alguns alunos o cantavam "japonês tem quadro filhos, todos quatro aleijados.."
Lembro e não sinto saudades da dupla DON & RAVEL, com suas músicas fazia apologia ao Governo Militar. Uma que tocava muito nas rádios em Manaus, trocávamos a letra parodia dela cantando assim "a maconha no Brasil grou liberada, até o presidente já fumou..." para a música da dupla começava assim: “As praias do Brasil são ensolaradas...lá, lá, lá....”
Lembro e sinto saudades das catraias coloridas que singravam de um lado ao outro os principais igarapés de. Manaus, num bailar cadenciado - uma ia e outra voltava cheias de passageiros por falta de pontes e se encontravam ao meio dele, quase sempre -, transportando passageiros, mercadorias e pequenas cargas anos 68/69/70 e até início dos anos 80, ligavam os bairros mais importantes da cidade. Era gostoso de olhar seus remadores com braços fortes, musculosos. Cheguei a entrar em algumas que ligavam o Morro da Liberdade à Cachorrinha só para apanhar água para beber na ensacadora de açúcar do Sr. Aguiar. Mas existiam outras em outros pontos ligando outros bairros como Educandos ao Centro, Aparecida ao São Raimundo...
Os mais de 130 igarapés catalogados, possuíam águas limpas e transparentes e pescava-se dentro deles, principalmente no Igarapés do 40 que entrava pelo Rio Negra e, passava pelos bairros de Santa Luzia, Morro da Liberdade e Betânia e um pedadaço do Crespo/São Lázaro e terminava uma "lagoa verde" devido à cor da água existente ao final de um igarapé que corria limpo no local . Hoje aterraram tudo e invadiram por necessidade ou por falta de moradia e de planejamento urbano.
Lembro e sinto saudades das kombis, chamadas de "espressinhos" ou “exprssinhos”, (o tempo já me fez esquecer como era escrita essa palavra) levando passageiros, mercadorias e cargas e para os bairros de Manaus, que os ônibus grandes de madeira, produzidos nas garagens das empresas ANA CÁSSIA, BONS AMIGOS e NOSSO TRANSPORTE, as que mais circulavam não conseguiam na cidade cheia de pistas de paralelepípedos.
Lembro de uma vez que quando vendia jornal na calçada dos Correios, quando pedi emprestada do colega lavador de carros Wilson, do Ginásio Dorval Porto, e a sua moto "Piaggio", para dar uma volta e garanti que sabia dirigir. Ela era importada pelo empresário Mário Biaggio. No "Dorval Porto" fiz o ginásio após concluir a 4 série primária onde passei a estudar e estudei até concluir a 8 série e fui me matricular no Colégio Estadual, no centro da cidade e, querendo ser professor igual às “tias” do curso primário.
Lembro e peço desculpas pela moto do Wilson ter caído presa nos trilhos de bondes que existiam sobre paralelepípedos que recobriam todas as ruas centrais de Manaus e alcançavam alguns bairros. A moto novinha amassou um pouco no tanque de combustível que ficava na sua frente.
Lembro e tenho saudades da lista de material pedido para meu curso primário: um lápis preto, borracha de duas cores, po brilhante para os trabalhos, cartolina, cadernos de caligrafia, de "cobrir" letras, de desenho e o livro CAMINHO SUAVE, de Violeta, ao contrário das de hoje, que custam uma fortuna nas livrarias que tem na data a de melhor de venda. Ah! Como era gostoso comprar picolé no portão do grupo escolar para comer com o sanduíche de ovo que minha madrinha prepara para mim, diariamente! Depois, como era gostoso vender picolé aos 9 anos. Estudava pela manhã e à tarde, vendia picolé na porta da escola.
Lembro e tenho saudades da época em que tomava banho nas cacimbas construídas em um areal que existia no bairro da Betania, depois do futebol de todas as tardes na avenida Adalberto Vale, antes do asfalto chegar. O Jorge Lopes da Silva, baixo, entroncado era o primeiro a ser escolhido. um e goleador nato. As traves eram feitas com sandálias ou pedras na falta de sandálias.
Nao tenho saudades do tempo, porque ele e envelheceu muito. Hoje vivo de lembranças do que fiz e não sei de alguém sentirá saudades de mim, quando eu me for morar com DEUS.
Só deixarei livros científicos nas áreas sociais e participação na Antologia Gandavos, editada por Carlos Lopes em, em Pernambuco. Nada levarei à sepultura quando me tornar saudade, além da vida boa que vivi, sem tecnologia, onde parece ser tudo artificial e não como na época em que vivi e era feliz e não sabia! Ah se o tempo voltasse!
Viveria tudo com mais intensidade, mas o tempo não volta. Segue seu curso natural e suavemente, as vezes com ou sem pressa nenhuma em caminhar. Nós temos que nos adaptar aos novos tempos!