____________Festa do Interior

 
Fagulhas, pontas de agulhas/ Brilham estrelas de São João. Mas qual o quê? São João não tá com nada, e ninguém nem sabe quem é ele. Pra começar, junho — que é o mês do santo, e suposta razão dos festejos — agora escorrega para julho numa boa! E o que deveria ser festa junina, é também festa julhina, que o tempo voa e não sobra agenda nem mesmo pro Santo.

Babados, xotes e xaxados/ Segura as pontas meu coração, que isso é coisa do passado. A coisa agora virou foi superprodução, tipo escola de samba, com brilhos e lantejoulas e a moçada se aperta mesmo é “indo até o chão” num funk pra lá de sensual. E a quadrilha? Sinônimo de roubalheira, valham-me todos os Santos, atribuída aos chefes da nação! Tumba la ca tumba, turma das catacumbas,  São João se revira na tumba e não tem remédio, o povo quer mesmo é fankear!  Macumba!

Bombas na guerra-magia/ Ninguém matava, ninguém morria! Agora, se não morre, tá quase morrendo! O casamenticídio da roça é um perigo aos olhares assustados das crianças e a arma apontada pra casar a noiva remete aos fuzis apreendidos e incinerados recentemente em divulgada operação policial. Estamos perdidos, minha gente!

Nas trincheiras da alegria/ O que explodia era o amor. Era, mas agora... O que há é tensão no ar. E a explosão que se ouve  na esquina? Pode muito bem ser ação da bandidagem em algum caixa eletrônico ou perseguição policial, ali no bloco da frente. Medo? Demais! Ainda mais com tanta bala perdida abatendo estudantes em quadra de escola, ou atingindo até quem ainda não nasceu. Pois é, a coisa tá assim... Infanticídio no útero materno. As trincheiras da alegria, perdidas estão em algum romance que a gente leu, em algum lugar do passado...

Ardia aquela fogueira que me esquenta/ A vida inteira eterna é a noite. Mas o que esquenta nestes tempos modernos não tá escrito! Tirando incidentais frentes frias instaladas pontualmente sobre as regiões, as estações invertidas não garantem mais a magia das noites geladas do São João, em que as estrelas já foram poesia inspirando tantas canções. Se bem, que é inegável: alguns balões continuam na ativa, incendiando e destruindo florestas, pondo em perigo espécies vivas, ameaçando a fauna, a flora e as gentes. As notícias estão aí...

Sempre a primeira/ Festa do interior... Que hoje em dia nem rastro deixou. Cadê a pipoca, o pé de moleque, a canjica, o milho assado, o bolo de fubá e o quentão? Sei não! Cadê a menina caipira, de vestido de chita, cabelo de trança e rostinho pintado? Sei não! Cadê o menino da roça, de remendo na calça, chapéu de palha e pito atrás da orelha? Sei não! Cadê a sanfona, a viola, o violão? Sei não! Cadê o baile no terreiro, anunciando se arrastar até o sol raiar? Sei não! Me valham meu São Pedro, Santo Antônio e São João! Cadê a festa do interior? Sei não...