Minha mãe e as margaridas
Como há cenários de nossa infância que ficam marcadas em nossa mente e que não se apagam!
Lembro-me dos jardins nos fundos de nossa casa sempre floridos.
Minha mãe, mulher batalhadora, de personalidade forte, mas ao mesmo tempo muito sensível, sempre gostou de flores. Foi uma mãe presente. Daquelas que se senta pra fazer a lição com os filhos. Mulher de pouco estudo, costumava mandar cartas às tias que moravam no interior. Eu, que sempre gostei das letras, a ouvia ler em voz alta com atenção. Depois de alfabetizada, adorava ler. Ortografia correta, caligrafia impecável, paragrafação inconsciente bem feita. Carta esteticamente perfeita. A velha “BIC” corria solta pela folha de papel corrigida várias vezes se o erro ocorresse.
Serei clichê se falar que devo a ela tudo o que sou e que pareço nostálgica demais, mas nosso passado dá respostas ao que somos. Dadas algumas neuras também, nada é perfeito, mas o que vejo hoje é positivo.
Voltando ao jardim, o colorido era maravilhoso! Era tanta diversidade! Rainha margarida, chuva de prata, crisântemo, trevo de quatro folhas, onze horas, e por aí iam o número de espécies de flores. Um arco-íris florido.
Meu pai, hoje aposentado, é construtor. Em contraste ao jardim, no quintal, sempre guardou entulhos, areia, um resto de piso da reforma recém feita. Nada atrapalhava a beleza do jardim.
Herdei dela o gosto pelas flores e vasos em casa. Dele, a positividade, a força, a intensidade em tudo que faço.
As margaridas são para mim o exemplo do belo sendo simples, das cores leves e claras, do amarelo símbolo da luz, do branco, a paz.
Minha mãe era a margarida; minha família, o jardim. A experiência, a água que faz germinar. Eu, em eterno crescimento pessoal, quem serei eu?