Green Soul

E neste fim de tarde chuvoso, eis que o Rei Davi, Rainer Maria Rilke e Octávio Paz fizeram-me enxergar algumas peculiaridades no vento. .

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"Põe nas águas os vigamentos das suas câmaras, faz das nuvens o seu carro e anda sobre as asas do vento".

(...)Faz dos ventos seus mensageiros, dos seus ministros, um fogo abrasador.

(Salmo 104, versos 4 e 5)

Quando Davi ilustrou no salmo 104, que a Glória de Deus é manifestada na criação ,e na conservação de todas as coisas, em seu espírito se materializara o que Gaston Bachelard chamara de "fonética natural", quando descreveu a sinfonia da natureza,as ditas "vogais do regato" e os seus ritmos inspiradores para os pássaros.

Falando-se em filosofia da materialidade, acredito que a fonética de Deus, tendo o vento como o seu mensageiro, é a fonética espiritual. Coisa que Otávio Paz soube perceber em sua obra "O Ramo, O Vento". “Em sua obra “ As Elegias do Duino”, Rainer Maria Rilke, um dos poetas mas sensíveis que já existiu, segundo Rubem Alves, tivera uma espécie de "catarse" ao estar debaixo de uma árvore . Seria Deus falando, ou um encontro espiritual com o arbóreo ser, este que com Deus esta em conformidade? Realmente, Bentinho, a alma é cheia de mistérios.

No capítulo 39," A Vocação", de Dom Casmurro, Machado enxergou um dos diálogos pertinentes do vento, no trecho:

"O alvoroço da primeira hora é melhor; esse estado de alma que vê na inclinação do arbusto, tocado do vento, um parabém da flora universal, traz sensações mais íntimas e finas que qualquer outro". Cabral ouviu as palavras de Capitu com infinito prazer".

Ah, se não fosse o vento. Devemos a ele e a Cabral a constituição do nosso Brasil. Talvez o vento seja a resposta das orações do português, a implantação dum projeto de Deus. O Pai não fala somente no templo e na Bíblia, pode falar também no vento. ..As folhas balançando são diálogo puro. Anunciam tempestade. ..Prenunciam a chegada duma tarde linda. Folhas e pássaros cantam. ..

Algumas paredes materializam choros e angústias, Felicidades também. Quem visita o que já foi um campo de concentração, uma prisão, um asilo ou um antigo hospital sabe bem o que é isso. Quem toca um monumento, ou uma rocha do tempo medieval pode compreender tais coisas que agregam energia, alegrias, tristezas, histórias. Memória sociológica gritante. Passei a pensar que as árvores e folhas ilustram cenas. Sugam o desejo dos milhares de transeuntes que passam por elas. Podem dizer um "Olá, Tudo joia?" ou simplesmente “Não chore”, ficará tudo bem! Deus é omnipotente, onisciente, tudo vê! Ou você entenderá isso futuramente....

Viagens, essa chuvinha no fim de tarde trouxe tantos pensamentos. Penso que o vento, as árvores e as folhas escolheram o profeta Isaías e Alberto Caeiro para personificar esses pensamentos:

"Voz que diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva, e toda a sua beleza, como as flores do campo".

"Seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR".

(...)Na verdade, o povo é erva.

"Seca- se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente".

(Isaías, Capítulo 40, versos 6,7 e 8).

(Pensar a Deus é Desobedecer a Deus (Caeiro,heterônimo de Pessoa)

Sejamos simples e calmos

Como os regatos e as árvores

E Deus amar-nos à fazendo de nós

Belos como as árvores e os regatos,

E dar-nos à verdor na sua primavera,

E um rio aonde ir ter quando acabemos. ..

E não nos dará mais nada, porque dar-nos mais seria tirar nos mais.

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Poeta de Borralho
Enviado por Poeta de Borralho em 05/07/2017
Reeditado em 29/09/2017
Código do texto: T6046340
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