A tia Ana e Antonio Silvino
Eu ouvi muito a tia ana Rosa falar de Antonio Silvino o Manuel Batista de Moraes, um bandido consumado. Muitaa vezes eu ficava admirado com o que a tia Ana Rosa narrava porque a tia Ana não lia como lia a tia Marica. Antonio silvino foi um bandido perigoso para o seu tempo, e como cangaceiro foi temível. Não respeitava ninguém e era tão cruel como fora o Lampião, o famoso Virgulino Ferreira da Silva. Eu nunca pude entender como a tia Ana sabia tanta coisa da vida daquele facínora. A tia Marica lia sempre sobre a vida do cangaceiro porque ela tinha muito amor a leitura e sabia explicar qualquer fato histórico. A tia Josefa nunca falou de cangaço e nem de bandido nenhum, porque ela só lia o seu missal ou o catecismo da igreja católica. Eu tinha apenas doze anos quando passei a ouvir histórias de cangaceiros e a saga dos grandes cantadores nordestinos. Eu me lembro da tia Marica lendo Francisco das Chagas Batista e Lenadro Gomes de Barros os dois maiores cordelistas de histórias em forma de versos. A tia Ana não lia cordel, contudo falava deles como se ela os lesse. A titia tanto lia cordel, como os grandes clássicos da literatura brasileira e universal. Foi ouvindo a leitura desta arte popular que começei a fazer versos com quinze anos de idade. Foi através de Francisco das Chagas Batista que que tomei conhecimento da vida de Manuel Batista de Moraes o bandido Antonio Silvino. Em menino de Engenho do José Lins do Rego há uma passagem em que o escritor fala do cangaceiro e da visita do mesmo a fazenda do coronel José Paulino do santa Rosa.Quando o bandido chegou ali, o povo ficou estarrecido diante daquele homem covarde. Aquela gente que estava presente assombrou-se com a visita de Antonio Silvino à fazenda do coronel José Paulino ou José Cavalcante do Rego. Essas histórias de crime fizeram meu suporte de poeta e cantador genuíno. Eu tinha assim boa informação de muitos fatos macabros que eu os transformava em versos autênticos. O alpendre da casa do meu avô era onde eu ouvia a tia Marica contar causos antigos e falar dos bandidos nordestinos como Lampião, Antonio Silvino, Cabeleira e muitos outros indivíduos fora da lei.
Como cantador eu sempre falava da vida dos bandidos e escrevia motes e sonetos. A minha infância ficou cheia destes terríveis crimes e de muita leitura de cordel que eue fazia com a tia Marica nas obras dos grandes cordelistas e dos nossos bons escritores. Hoje aos sessenta anos de idade eu ainda me lembro de tudo isto sem esquecer nenhum pormenor.
Quando escuto alguém falar de cordel o meu consolo é só chorar.