O mendigo

Um estudo recente (https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade) traz como conceito de cidade um determinado qualitativo populacional formado por indivíduos socialmente heterogêneos. Eu diria extremamente heterogêneos. Mesmo as cidades do interior com suas características ainda guardam detalhes específicos.

Por mais que se tente modernizar até as metrópoles têm suas peculiaridades. Não existe exercício mais peculiar e interessante do que caminhar pela cidade para perceber isso.

Cada cidade promete algo novo, um mendigo conhecido e muito popular, uma prostituta importante (isso mesmo, importante para dar características dos hábitos, das relações, da sociedade local), um alcoolista querido por sua bondade e fragilidade.

Caminhando dia destes por minha cidade, uma cidade de pouco mais de 130 mil habitantes, me veio à mente o que aqui descrevo.

Passando por uma praça - quem nunca passou por isso? – avistei um desses mendigos que nada pode transmitir de violência ou perigo. Vi que atrás dele, todos muito perto e continentes, quatro cachorros vira-latas, um de cada cor e tamanhos diversos. O mendigo que pegava restos e comida em uma lixeira próxima distribuía os restos de comida que achava. Seguidor convincente e guardião, fiel a seu provedor, cada cão continuava seguindo seu inextinguível protetor.

A cena mexeu com meus sentimentos mais humanitariamente fraternos e intransponíveis. Um homem com toda sua vida miserável dividindo o que o outro homem desperdiçou ou deixou sobrar de seu prato de cada dia.

Aquilo me fez repensar das muitas vezes nas quais não temos tempo pra ajudar o próximo, para dar uma palavrinha com alguém que procura companhia.

Chamei o homem, levei-o até minha casa, proseamos, dei-lhe de comer, levei algo aos seus fiéis amigos que aguardavam no portão, passivos e fiéis. Despedi-me, ele prometendo voltar em um futuro próximo. Gostou da recepção, claro.

Não sei se retornarei a vê-lo. Mas mudei meu olhar pela cidade e seus belos cidadãos.