Chaleira da casa
Chaleira da casa.
Como o mês de junho nos reporta às nossas origens! Às nonas, nonos, zona rural. O crepitar da chama, o fogo alaranjado em seu esplendor de luz na lenha que se queima no fogão de cimento vermelho, aquecendo a cozinha, reunindo família.
A chaleira perene na chapa, sempre quente, à espera de sua próxima missão.
Chaleira que prepara o escalda- pés daqueles que chegam exaustos da lida da fazenda, nas botinas já gastas pelo chão duro do caminho.
Chaleira que ferve a água do café que enche a casa com o seu aroma, acariciando quem se levanta, espreguiçando. Café que alimenta as crianças que vão pra escola, nas canecas de alumínio, com pão e manteiga feitos em casa. Que enche as garrafas de café do trabalhador que madruga, em seu embornal, companheiro da roça.
Chaleira que ferve a água a pedido da parteira, que veio apressada para receber a vida que nasce do ventre sagrado de uma mãe. É choro, é riso, é família apreensiva, aguardando a boa nova, no terreiro gelado.
Chaleira que faz o chá servido no terço das famílias, nas orações de louvor, nas lágrimas, perdas e nas alegrias da Fé de cada um.
Chaleira acolhedora que recebe a comadre, o compadre num dedo de prosa. Bons tempos...
Ah! A chaleira que esquenta a compressa da dor de barriga, da dor de ouvido, da dor de dente... se não cura, afaga...
Chaleira furada, de todos os tamanhos que vira floreira com gerânios vermelhos, na soleira da casa.
Chaleira que doou sua água quentinha para reanimar o bebê, que perdeu a temperatura em uma noite fria de junho, pela parteira, que a querendo limpinha da cera que a envolvia, a higieniza com um gelado álcool. Compressas, cobertores, abraço de braços fortes... e a vida retorna, com um suspiro de alivio de todos que esperavam o tempo passar lentamente. Como o Sol demorou a nascer naquele dia!!!! Na veracidade dos fatos, este bebê reanimado tem um nome, da descendência dos Bassans. Seu nome é Olynda