Não largam o osso

Fico aqui, no meu cantnho, pensando estarrecido na ambição desmedida dos políticos pelo poder. Ora, se já têm mais do que o suficiente para viver confortavelmente, por que nãsse aposentam e dãoo lugar para outros? Por que não fazem um gesto nobre de desprendimento? Não, não largam a rapadura de jeito nenhum. Rapadura, vírgula, mas o osso do poder, já comerm a carne todinha mas ainda fazm questãode ficar roendo os osssos que nem os cachorros(perdão a eles pela comparação). Ficam agarrados ao osso, excitados, frenéticos e num frisson da gota serena, quem se aproximar eles mordem. São incapazes de um belo gesto de abrir mão do poder.

Sabem por que me referi ao osso e ao cachorros? É que me lembrei de uma crônica de Dom Hélder Câmara que cai como uma luva para refletir sobre a amibição dos políticos se agarrando ao osso do poder. Vou transcrevê-la:

TER E RETER

Dom Hélder Câmara

"Donde virá a paixão do cachorro pelo osso? Tenho para mim que se oferecermos aos cães carne de um lado, osso, do outro, eles nem vacilam: largam a carne e agarram o osso...

"Reparem, aquelke cachorro agarrado ao osso... Deus dfo céu! Que sofreguidão! Que furia! Rosna, de feliz... Rosna para espantar qualquer intruso que tenha a audácia de querer participar de seu banquete... Tem ciúme da própria sombra, pois lembra outro cão que pretenda dividir com ele um pedaço, por míimo que seja, de seu festim delicioso...

"Sabem que vale como meditação profunda olhar, com olhos de ver, um cachorro agarrado ao osso!?...

"É curioso! Chamar cachorro de cachorro,falar do agarramento ao osso, não inclui nada de ofensivo... Mas é muito delicada qualquer aproximação quanto a criaturas humanas com agarramentos que lembram ocachorro aferrado a seu osso. Mas é ou nao o caso de cada um perguntar a si mesmo se, em atéria de agarramento, não há nada que lembre a cena à qual estamos aludindo.

"Sem pretender julgar ninguém, deixando a cada consciência oencargo de examinar-se:

- há ou não agarramento a dinheiro que lembra o agarramento ao osso, com todos os pormenores da cena recordada: nao deixar ninguem encostar; querer o osso só para si; rosnar, arreganhar os dentes, mostrar as unhas e, não raro, morder....às vezes, os homens emos a tentaçãode ir ainda mais longe: não contentes com o osso que já temos nos dentes, ainda avançamos no osso dos outros...

"- há ou não agarramento a cargos que lembram o agarramento ao osso? Há criaturas que foram esplêndidas no cargo: desdobraram-se; obtiveram resultados maravilhosos; não mediram sacrificios;dedicaram ao cargo omelhor de sua vida...

"Cadê coragem de largar o osso?!... Convencem-se de que não se trata de nada pessoal: querem morrer no posto porque onde encontrar quem conheça o trabalho como quem praticamente criou tudo e fez o trabalho crescer? ... Onde encontar quem tenha a mesma dedicação?

"E não faltam Amigos aduladores - mais aduladores que amigos - para dizer e redizer que é impossível largar o osso, que é preciso sacrificar-se, mas não sair...

"Convém examainar se nossas amizades não são agarramento ao osso... É amizade autênticaa amaizade possessiva, absorvente, ciumenta, rosnante, que mostraos dentes e garras a quem se aproxima, como se todos quiséssemos tomar o osso?...

"Que ninguém se ofenda com a comparação: estou só pedindo que, encontrando um cão agarrado a um osso, parem, olhem, meditem... Meditem!".

eflitam sobre a crônica do saudoso Dom do Amor. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 03/07/2017
Código do texto: T6044709
Classificação de conteúdo: seguro