Assim ou ... nem tanto. 99
Assim ou … nem tanto. 99
O imperfeito
O outro lado da ordem é uma ordem diferente. Há quem chame desordem à situação ou coisa que está ou surge, que vem ou existe à revelia de mandado, autorização, complacência. Eu chamo liberdade, autonomia. Há espíritos tão certinhos que rejeitam o ikebana só por não ser simétrico, que amam a representação fotográfica da pintura realista por ser “quase real”, que escolhem ser, fazer ou estar como se toda a lei dos homens e de Deus fosse um tremendo olho aberto sobre a sua importância. Gente submetida, presa, equilibradamente pobre, incapaz e medíocre. Gente penalizada pelas convenções sociais, atada ao preconceito, com asas mas quebradas, dolorosamente rastejando em sorrisos falsos, alegrias choradas por dentro. Chego agora ao que quero dizer, seguro de que vou abanar consciências, gerar intolerância, provocar urticária nos conservadores polidos, politicamente correctos. Acho-vos um perfeito dissabor, um anacronismo, uma submissão acriteriosamente igual quando sois, de corpo, alma e vontade diferentes. Acrescento, ainda, mais um pormenor que reputo importante: o imperfeito é, incomparavelmente, mais bonito, mais livre, mais genuíno, mais verdadeiro. Sou tosco? - Claro que sou.