VISITAS

VISITAS

Hoje não se faz mais visitas – nem se é visitado – como antigamente! Às vezes me vejo atacado por pruridos saudosistas ao constatar que nas décadas de 50 ou 60 as pessoas e as famílias tinham mais tempo para a vida social, a correria era menor e sempre sobrava mais tempo para rever amigos e parentes. Como poucas pessoas tinham telefone, não se marcava a visita: a pessoa aparecia de inopinado, sem avisar ou agendar. Quando menos se esperava batiam à porta ou tocavam a campainha e tinha-se o prazer inesperado de uma visita. De outro lado, era notável a satisfação estampada no rosto dos que recebiam a visita. Como eram boas essas surpresas!

Como as visitas consolidavam as amizades, o pessoal daquela época costumava “contar visita”, ou seja, de tanto em tanto “cobravam” de amigos ou parentes um tempo sem esse tipo de contato. Lembro que minha avó falava em visitar dona fulana, pois “faz mais de um mês que não vou lá e ela pode desconfiar de alguma coisa”.

Os aniversários eram igualmente revestidos da magia da presença. Ninguém convidava; todos sabiam as datas dos aniversários dos parentes, amigos e colegas, e no dia certo a gente estava lá, “rente como pão quente”. Os presentes eram admirados e colocados sobre a cama, em cima do vistoso papel colorido. Na casa das pessoas mais íntimas acontecia assim: a mulher com os filhos iam à tarde, e à noite aparecia o marido para fazer o rescaldo das gostosuras.

O cardápio era farto, mas trivial: sanduiches fechados (queijo e mortadela), alguma torta-fria, lombinho com farofa cortado em fatias finas, salada de maionese tudo servido em pratinhos, na mão, junto com croquetes e pasteizinhos. Não havia tortas, era bolo coberto de merengue, com duas camadas de recheio de frutas. Para quem gostasse – e em geral todos gostavam – havia os doces caseiros em calda (coco, figo, laranja e abóbora) apresentados em vistosas compoteiras que davam vida aos manjares. Só em lembrar me da água na boca... Bebia-se guaraná e cerveja. Se a festa fosse mais encorpada, aparecia um barrilzinho de chope amigo.

E hoje, o que acontece? Não acontece! As pessoas são mais comodistas, não visitam e não fazem festas. Se o fazem, é sob convite (para prever o número certo de convidados), isso quando não surge o péssimo hábito do “cada um paga a sua”. Ninguém visita sem ser convidado e se não tiver um rango esperto. Além disto, há a reciprocidade. Só convidam quem convida...

Além do comodismo e do pragmatismo tem a televisão. Poucos saem à noite por causa das novelas e do futebol. Conheci um cidadão que ia às reuniões de condomínio do prédio, mas antes das nove ele saia para assistir as emoções televisivas.

Hoje não se faz mais visitas como antigamente... Ah que saudades!