Onde estão os seus verdadeiros amigos?
Reflexões do que parece ser certo e do que já foi condenado, como errado!
Um homem de meia idade vivia só em sua em sua modesta casa, na verdade acompanhado de seus três cãezinhos.
Aposentado por invalidez, divorciado, pai de quatro filhos, maiores e todos casados. Seu salário mal dava para suprir suas necessidades básicas e gastos pessoais. Para piorar o cenário que já não era bom fazia uso contínuo de remédios controlados. Sofria desde muito tempo de um problema de coluna, sendo este o motivador de sua aposentadoria. Para amenizar um pouco, a casinha onde morava era de sua propriedade, herdada como única exigência em sua separação e este fato minimizava a situação, porque depender de aluguel nestas alturas seria como “enxugar gelo”, lutar para continuar respirando, isso sim.
Não cabe nesse momento questionar sua condição de pai e tentar justificar este estranho abandono, mas o que se sabe é que três de seus filhos moram bem próximos e gozam de boas condições financeiras.
A verdade nua e crua é que ele não era assistido por nenhum familiar e aparentemente com a salva guarda de ser uma boa pessoa, ao menos era a impressão que se tinha sobre ele e esta realidade o deixava alijado do convívio familiar.
Carente de carinho, atenção e afeto por parte deles, encontrava tudo isso na mesma proporção por parte de seus amiguinhos do dia a dia (seus cachorrinhos). Amigos fiéis, desprovidos de segundas intenções, companhias ideais, amigos na verdadeira acepção da palavra, onde a única e igual exigência era também o carinho e o cuidado incondicional.
Aquela casinha mantinha certa ordem e dentro de suas possibilidades e condições, limpa e asseada. Mesmo assim não era bem visto pela vizinhança que o tinham por errante, andando pra lá e pra cá com aquele bando de pulguentos, referindo-se aos seus inseparáveis cãezinhos. Esta repulsa em nada se relacionava com sua índole, pois do pouco que sabiam a seu respeito lhes ofereciam argumentos que não o desabonava, só implicância gratuita e sem por quê.
Muito pelo contrário, homem de fino trato, respeitoso, educado e nem todo o isolamento que sofrera em nada justificava uma negativa de caráter. Apenas sua aparência o caracterizava como destoante dos demais, que o tinham como fora dos padrões normais, como se os ditos ‘normais’ ditassem o que fora certo ou errado!
A natureza humana parece ter essa faculdade de rotular e dizer isso é certo, ou isso é errado fazendo alguém ir do céu ao inferno num simples julgamento subjetivo, discriminatório e preconceituoso.
O ponto fora da curva para aquele pobre coitado foi ter em sua aparência, o achego com os animais e o modo pacato de ser, ido de encontro aos pensamentos mesquinhos do veredito final e irremediável da maioria classificada como “modelo de padrão”, considerando-o a antítese dos costumes tradicionais.
Além do abandono físico dos seus e o descaso velado da sociedade, tinha ele também que conviver diariamente com o desdém dos vizinhos.
Talvez para muitos aquele indivíduo pudesse estar acostumado com a situação, ledo engano, pois se trata de um ser humano igual a todos, diria até melhor que a esmagadora maioria.
Alguns se mostram mais contidos e nem por isso mostram-se solidários com este semelhante. Outros bem mais exaltados proferem absurdos do tipo:
-Vai ver que dorme no chão e cede sua cama aos cães, não duvido!
-Quem sabe divide sua comida com eles, ou pior ainda, come com eles no mesmo prato!
Tudo vai piorando até que alguém, comungando da opinião dos demais o condena com tanta veemência como se fizesse uso da verdade e da decência suprema.
Ouvindo a tudo e guardando palavra por palavra, o homem se reveste numa espécie de bênçãos do céu e dá uma aula de sabedoria e bondade, sendo tão lúcido tanto quanto contundente e direto:
-Se me permitirem algumas palavras...
-Vocês não vêem televisão? Não lêem jornais ou revistas? Nunca viram em redes sociais reportagens inusitadas em que muitos cãezinhos iguais a estes se colocam ao lado de seus donos até na hora que ele está sendo socorrido perseguindo a ambulância incansavelmente até o hospital?
-Acredito que pelo menos alguns de vocês já ouviram falar de um caso bem divulgado. Dizia à reportagem que num certo lugar, com o falecimento de seu dono, o seu cachorrinho passa dias e noites ao lado do seu túmulo?
Não querendo abusar demais da atenção e tomar os vossos preciosos tempo. Há bem pouco tempo acompanhei outra..., onde assistindo vi um cãozinho igual a este (aponta para um de seus amiguinhos), estava ao lado de outro que havia sido atropelado e não arredando as patinhas dali em solidariedade e a espera provavelmente que algum ser humano, (bondoso assim como vocês não é mesmo) viesse socorrê-los.
-Ah! Disse que tomaria pouco tempo de vocês, mas ia esquecendo.
Noutro dia, neste mesmo tele jornal outra reportagem me fez lembrar essas que acabei de relatar. Só que diferentemente não tinha nenhum pulguento envolvido (nessas alturas observava-se um misto de descrença com perplexidade pelo que ouviam sair da boca daquele “Zé ninguém”).
------ Mas vamos lá...
Em uma rodovia federal que interliga dois grandes estados do Brasil, uma carreta carregada de bebidas (cervejas), tomba na subida de uma íngreme serra. O motorista a pedir por socorro fica preso às ferragens. Até ai, embora grave o acidente, é mais um na estatística funesta e desenfreada dos tempos modernos em que a pressa e o cumprimento dos horários por entregas vão empilhando tragédias e vitimando pessoas.
Pois bem o absurdo maior nesta história foi que carros que por ali passavam preocupam-se em saquear a “rica e imprescindível” mercadoria deixando o último fio da vida daquele pobre homem se esvair, clamando desesperadamente por ajuda. Pasmem vocês, uns não satisfeitos para si, param no acostamento e chegam a ligar para os parentes e amigos. A ideia seria de irem rapidamente para ‘ajudar’, não ao motorista que nessa hora provavelmente já havia partido, mas sim para ajudá-los a transportar com muito cuidado, as garrafas da nobre bebida (olha aí o vocabulário do molambo. Mais um “tapa com luvas de pelica” no ego e na soberba da atenta‘platéia’ que jamais imaginaram ouvir da boca de quem ouviam, tais palavras de lucidez. Mas esperem um pouco, duas perguntinhas me encafifam nessa hora:
-Em que momento ele deixou transparecer ser inculto?;
-Ou, em qual circunstância perderam algum tempo para ouvi-lo trocando duas ou três palavrinhas?).
Agora só mais uma perguntinha e prometo liberá-los para os seus inadiáveis afazeres:
-Fosse para avaliar os procedimentos, que nota daríamos aos pulguentos?
-E aos inteligentíssimos e evoluídos SERES-HUMANOS?
Não precisam me responder, já sei a resposta. Guardem para si...!
Agradece a todos pela atenção e nessa hora chama cada um dos cachorrinhos pelo nome e vão fazer uma boquinha, porque passava um pouco da hora da refeição dos quatro amigos inseparáveis.
Sua falação efusiva e contundente faz com que muitos mudem de opinião, outros se fingem de indiferentes e até se observam aqueles que não segurando a emoção, sem nada pronunciarem apenas lhe estendem as mãos a cumprimentá-lo. E foi este último ato que fez o homem pensar e acreditar que nem tudo se encontra totalmente perdido!!
Certa feita o grande poeta Vinicius de Morais, disse em uma de suas célebres frases:
O álcool (uísque) é o melhor amigo do homem e que seria o seu cachorro engarrafado.
-Humildemente..., “Prefiro meus pulguentos mesmo, companheiros fiéis e assistentes da minha solidão”!
-Este texto por mim criado é fictício, foi ilustrado com citações reais de reportagens, mas alguém se atreveria a duvidar que isso de fato não possa acontecer?
-E a respeito do personagem fictício quis eu que se chamasse Josafá que significa, “Deus julga”.