Tatiana

Tatiana largou o guarda chuva na porta de casa e seguiu com passos rápidos para o seu quarto.

Fechou a porta e começou a se despir.

Deixou os sapatos encharcados num canto e jogou a calça jeans, no cesto de roupa suja.

Sentou-se na cama, ponderando sobre o próprio azar, ou sua incapacidade de tomar decisões acertadas quando não tinha tempo de pensar sobre elas.

Sempre foi assim. Se ela tinha um molho de chaves na mão, ela sempre pegava a chave errada primeiro. A certa sempre era a última.

Se fosse pra depender da sorte ela estava ferrada.

Deixou-se cair deitada e começou a chorar, agarrada no travesseiro.

O choro era raiva, desespero, tristeza e algo que ela nem sabia dizer o que era, mas sentia como se estivesse se afogando em tudo isso. Com alguns minutos as coisas foram se acalmando e ela se perguntou por que havia chorado daquele jeito.

As vezes ela não conseguia entender o que se passava dentro de si. Brigava com as pessoas, consigo mesma, sem motivo aparente. Ou talvez os motivos só fizessem sentido em alguns momentos. Essa natureza mutável era algo que atraia algumas pessoas, mas espantava outras. Tinha medo de ser insuportável, tinha medo de ficar só, ao mesmo tempo que frequentemente desejava e necessitava de solidão.

Quantas pessoas eram assim no mundo?. Será que esse tipo de coisa era exclusividade dela?

Um guarda chuva quebrado, uma mensagem atravessada no celular e um dia de chuva torrencial foram capazes de mudar completamente seu humor e tirar-lhe toda a vontade de enfrentar o mundo e o tudo o que tinha que fazer naquele dia.

Cobriu-se com um lençol e fechou os olhos. A privação do sentido da visão fez com que prestasse mais atenção ao som da chuva caindo no telhado e batendo na janela.

Ouviu também suas gatas miando e arranhando a porta para entrar no quarto.

Normalmente ela teria as deixado entrar, mas não se sentia capaz de lhes dar atenção. Queria dormir e esquecer daquilo tudo.

Talvez acordasse refeita de alguma forma,

pronta para fazer as coisas de outro jeito.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 01/07/2017
Reeditado em 02/07/2017
Código do texto: T6042804
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