Vivência Computadorizada

Lembro ainda quando minha vida era calma e serena. Ia ao colégio, tinha meus amigos, saia, escrevia minhas poesias com certa constância, namorava, jogava basquete. Uma vida cheia de afazeres, mas nada que me tirasse o sono.

Um dia tudo passou a ser diferente. Lembro-me muito bem, quando acessei a internet pela primeira vez, fiz algumas pesquisas, conversei um pouco em alguns chats e desliguei a máquina sem ainda ter noção que um novo mundo se abriria para mim e mudaria completamente meu cotidiano. Comprei um computador e coloquei-o em um cantinho na sala para digitar meus textos e fazer meus trabalhos escolares. Nessa época, tinha um modelo 486, mas era necessário, acompanhar a tecnologia. Foi quando comprei um Pentium 166 e o computador passou a ganhar um lugar mais destacado na copa. Agora toda vez que chego em casa, lá está ele no seu lugar, me chamando com todas os seus atrativos a teclar...

Mais alguns anos se passaram, amigos virtuais começaram a compartilhar minha agenda e até minha escrita se "virtualizou". Antes tinha uma ânsia louca para publicar livros em papel, agora, ainda que essa vontade ainda exista, é a tecla que embala meus versos e prosas. Na realidade, expandi meu mundo, mas nesta vida dividida entre real e virtual, acho que me tornei um pouco máquina e a luz da tela já não me permite dormir como antes. Passo minhas noites conversando com pessoas que muitas vezes nem vejo, só em fotos ou por uma câmera conectada ao computador. Desfruto com elas de meus sentimentos e aspirações. Minha linguagem começou a se adaptar para abreviações convencionadas na rede que vc já deve conhecer bem!

Se sou :-)??? Não sei...pois já não posso ter aquela comunhão familiar de outrora, apesar do mundo inteiro a descobrir que se coloca diante de meus olhos, ainda que me demita de minha vontade própria. Já não sei qual é o meu nome, se é o meu nick ou o real. A máquina muitas vezes acaba sendo mais forte, me atrai e seduz. Afinal de contas, é só ligar três botãozinhos conectar e pronto, estou navegando, viajando em conversas alheias e pesquisando para saciar minha curiosidade, coisa que considero difícil, mas que pelo menos me alimenta de ilusões.

Minha vivência agora é computadorizada, meu mundo é feito de bites, meus amigos são internautas, muitos viciados como eu, certo que deixo muitas coisas de lado, mas afinal de contas não é esse o futuro?

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 17/10/2005
Código do texto: T60428