Aquele Aniversário...
 
Comemorava-se o início de uma juventude. Era o dia 30 de junho. Fora da tradicional comilança, festejaria o aniversário com comidas juninas: a canjica com coco e amendoim seria a atração e substituiria bolo e velas.
 
A casa era pequena e a sala diminuta. Aquela juventude toda foi chegando, cumprimentando uns aos outros e tomando todos os cômodos da casa. Nem todos se conheciam. Amizades começariam ali. E a vida trataria de afastar, aproximar, fazer e desfazer como ela é: artesã de colchas de retalho com bordas de crochê.
 
Prosas e risos assinalavam a efervescente juventude. O aniversariante se mostrava feliz.
 
A guloseima fervente foi servida. O rigoroso inverno da serra se amenizava com o caldo doce e quente.
 
A juventude se alegrou e daí cada um seguiu seu caminho... de volta para casa...e na vida afora.

 
Anos se  passaram e como toda relação humana as amizades se estranharam. E às vezes os amigos precisam pontuar a amizade.
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Parabéns pelo teu aniversário!
Naquela outra noite dos idos da década de 70 comíamos aquela canjica mineira feita por ela. Comemorávamos teus 16 anos. Éramos só adolescentes, vizinhos, colegas de escola, amigos. O futuro era um mistério.
 
Mesmo assim seguimos em frente. Nossos caminhos se bifurcaram. Fizemos nossas escolhas pessoais e profissionais.
 
Encontros e reencontros ocasionais levantando reminiscências. Você sempre confessante e eu no confessionário evitando confissões por achar que o pessoal e o íntimo só dizem respeito à própria pessoa e que o mais era desnecessário. Bastam-nos só as boas lembranças, o mais são lambanças de cada um. Modos de reinventar a vida para torná-la possível, como  poetizou Cecília Meireles.
 
Eu faço questão de minhas reservas. São quase meus únicos bens e maneiras que levo comigo guardadas em cofre cardeal. São minhas,  só minhas. Melhor, é de parte de meu EU, que nem a outra metade precisa saber. São reservas e não as uso nem para identificar, ou compartilhar, ou confessar, ou angariar simpatias (às vezes a antipatia é mais lucrativa).
 
Mas, por que levantar estas observações nesta tua data festiva?
 
Para que fique clara minha posição.
 
No mais, sem sentimentalismos e pieguismos  por sermos homens pós-modernos e não sonhadores do século 19 ou 20, muita felicidade, saúde, bom senso nesta nova idade inaugurada nestes 30 de junho e nas vindouras que certamente teremos. Pois quem nos trouxe até aqui nos levará em bom termo adiante.
 
30/06/2011.
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E assim o tempo passou em um piscar de olhos. Mas aquela canjica permanece na memória há 41 anos.



Leonardo Lisbôa
Barbacena, 30/06/2017
 
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 30/06/2017
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