A infância.
Lembrei-me com saudades da minha infância.
Quando ainda morava no interior de Minas Gerais, na então fazenda Lindoya, lugar que naquela época era lindo, a minha terra encantada, quase como a terra do nunca do Peter Pan, mas hoje ela é uma terra de ninguém, esquecida e abandonada.
Na fazenda a vida era muito simples, vivíamos ao entorno de coisas muito simples, a típica vida de uma criança da fazenda. A casa onde eu morava era bem espaçosa, havia três quartos, nos quais, o maior era dos meus pais, e o segundo maior era meu e de meus irmãos, embora houvesse outro quarto, esse era reservado para as visitas, minha irmã e meu irmão, ambos mais novos do que eu, não gostavam de ficar em quartos separados. Desde a minha infância até o presente momento a minha ligação com os meus irmãos é muito forte, um amor fraternal incomum eu diria, ficávamos o tempo todo juntos, brincávamos, aprontamos, choramos, e rimos juntos, nunca houve desavenças entre nós três.
Às vezes, no silêncio da noite, fico a meditar nesses áureos momentos da minha infância, tenho imensa saudades daquele tempo que não voltará mais, era uma vida muito simples, e talvez ao leitor ela não pareça atraente, mas que, certamente, para os leitores que porventura tiveram semelhante experiência, sabe bem do que estou falando, e imagino que a maioria dos senhores sentem arder os seus corações, ao recordarem momentos de suas infâncias. Esses momentos inesquecíveis e agradáveis, é um alento ao coração, um bálsamo na alma. O tempo passa, mas as boas recordações continuam para sempre.
Retomando ao pensamento anterior, lembro-me com extrema exatidão, e com riqueza de detalhes de inúmeras coisas, mas entre tantas, uma tinha e porque não dizer que ainda tem, um sabor muito especial, o velho fogão a lenha, já outras vezes mencionado em minhas crônicas. Lembro-me, amigo leitor, que logo nas primeiras horas da manhã, o irresistível aroma do café invadia o meu quarto, eu me levantava rapidamente e me dirigia a cozinha para ficar a beira do fogão a lenha, lá estava meu pai, coando o café à moda antiga, com coador de pano. Quem teve o privilégio de presenciar uma cena dessa e de saborear um café desse, feito no fogão a lenha, café que havia sido plantado no quintal de casa, fresquinho, certamente saberá a tortura que é relembrar esses momentos.
Eu me sentava à beira do fogão, encolhia-me em um canto, esfregava as mãos uma nas outras perto das brasas vermelhas para aquecê-las. Meu pai então, como sempre fazia todos os dias, enchia sua generosa xícara de café, e ali mesmo, junto comigo, tomava seu café antes de sair para trabalhar.
O tempo passou amigos leitores, hoje estamos entrincheirados pela modernidade, sinto falta das coisas simples da vida, da infância que não volta mais, quisera eu ser como Peter Pan, e para sempre continuar criança, vivendo eternamente na terra do nunca. Mas não somos como o Peter, e não vivemos na terra do nunca, ao contrário, a terra em que vivemos, nunca saberá das glórias do passado, e que o bom da vida, é apenas uma lembrança pairando no pensamento.