OS ANÔNIMOS E AS MÍDIAS SOCIAIS

Jesus Cristo durante os três anos em que esteve ativo transmitiu seus ensinos num raio não superior a 150 km e para não mais que uma dúzia de cidades. Em termos de comparação, para localizar o amigo leitor, seria como se em morando na Laguna seu destino mais longe tivesse sido um pouco além de Florianópolis.

Paulo, o apóstolo, seu seguidor, ex Saulo de Tarso, convertido cristão às Portas da cidade de Damasco, durante mais de trinta anos de peregrinação e depois de suas três viagens missionárias que duraram anos, conseguiu ser ouvido a uma distância não muito maior que isso. É mole?

Naqueles tempos a comunicação não era algo fácil como é hoje, somente as ideias excepcionalmente relevantes alcançavam grandes distâncias, as falas medíocres e triviais não passavam dos bate-papos às portas das sinagogas ou no máximo dobravam a esquina e morriam ali a diante.

Hoje tudo mudou. E como!

Dois mil anos depois, a evolução dos meios de comunicações atingindo velocidades que fazem com que o mundo gire em tempo real e as notícias naveguem numa rapidez nunca dantes navegada trouxe lá os seus benefícios, não podemos negar, mas a modernidade trouxe a tiracolo, seus efeitos indesejáveis também.

Refiro-me aos anônimos que tudo sabem, de tudo entendem e sobre tudo opinam. Para qualquer assunto têm sua ideia definitiva, “surpreendentemente” surpreendente e como possuem (e sempre possuem!) um computador conectado à sua frente acham que tudo aquilo que pensam seja absolutamente relevante, necessário e imprescindível para ser escutado pelo resto da humanidade.

Convenhamos meus amigos, nem tudo o que escrevemos é sensacional. Tirem-me como exemplo. A bem da verdade raríssimas são as vezes que falamos algo relevante. De ordinário chamamos mais a atenção pelas besteiras que escrevemos como verdades absolutas, e o tempo que perdemos tentando fundamentá-las.

Mamãe já dizia, Deus te deu dois ouvidos e uma boca para que você escute mais e fale menos. Mas a internet só tem uma boca que não pára de falar.

Por isso continuo surpreendendo-me quando lembro de Jesus. A pé, sem net, sem Face, sem qualquer uma das mídias que temos hoje, com as dificuldades peculiares de tempo e lugar, num mundo sem wi-fi, querendo ensinar a todos algo que pouquíssimos estavam interessados em aprender. E ele conseguiu. Não falou besteira. Nem fez falta a internet.